25 de março de 2022
Pedro Neves Dias
Brasil de Fato RS | Porto Alegre (RS)
O preço dos alimentos não para de subir. É uma situação que assusta as famílias e faz doer o bolso dos trabalhadores. Boa parte dessa responsabilidade é do governo federal, que poderia ajudar a segurar esses preços, mas não faz isso.
Listamos aqui três motivos – entre muitos – para você entender como o governo não está cumprindo o seu papel para impedir que a comida fique tão cara e nossos pratos mais vazios:
O IBGE segue notando que os preços não param de aumentar. De acordo com o DIEESE, um trabalhador que recebe o salário-mínimo gasta mais da metade do que ganha a cada mês (R$ 1.212) para comprar uma cesta básica.
Somado ao aumento generalizado do custo de vida, estamos numa situação em que as famílias precisam deixar de comer certos produtos para pagar as contas. Lembrando sempre que é o governo federal quem fixa o valor do salário mínimo. Se o salário cresce menos do que a inflação, nosso rendimento é abocanhado pela elevação dos preços.
Nesse ponto, outro quesito é muito importante: a decolagem no preço dos combustíveis. Devido a uma decisão política, a Petrobras pratica uma política de dolarização dos preços, chamada de Preço de Paridade Internacional (PPI). Ou seja, utilizamos o dólar para calcular o valor da gasolina, enquanto nosso povo ganha em reais.
Outro recurso que o governo federal pode usar para regular e segurar os preços dos alimentos são os estoques da Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab. A empresa pública possui silos e armazéns e uma rede de compras capazes de guardar e distribuir milhões de toneladas de grãos, mas não está fazendo isso. Ao contrário: hoje esses estoques estão quase zerados.
Segundo Silvio Porto, ex-diretor da Conab, quanto maior o volume desse estoque público, mais é possível conter a alta dos preços. É como se o governo enviasse um “sinal de alerta” ao mercado, avisando que se os preços subirem muito, esses alimentos podem ser comercializados diretamente aos consumidores por preços mais baixos e até mesmo serem distribuídos, através de escolas e instituições públicas.
Voltadas para o mercado interno, são as cadeias de produção com base na agricultura familiar que produzem a maior parte dos alimentos que chega à mesa da família brasileira. O agronegócio, ao contrário, produz grãos – especialmente soja – para a exportação e paga pouquíssimos impostos, como aponta o site O Joio e o Trigo.
Assim, atitudes do governo federal só dificultaram a vida dos pequenos agricultores. Bolsonaro, por exemplo, rejeitou o Projeto de Lei (PL) 823/2021, a Lei Assis Carvalho II, que daria uma ajuda emergencial aos agricultores atingidos pela pandemia.
Como se não bastasse, excluiu essa categoria do Auxílio Emergencial e extinguiu o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que permitia a venda dos alimentos diretamente ao governo federal.
O resultado dessas políticas é que, hoje, as áreas plantadas com feijão, arroz e mandioca são as menores desde 1976, o que também puxa os preços para cima. A agricultura familiar, que é uma força econômica do país, poderia ser mais uma alternativa para o Brasil enfrentar o avanço da fome, mas parece que isso não está nos planos de Brasília.
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