7 de março de 2018
A Caravana Nacional de Luta Camponesa ‘Clodomir de Morais’ do Movimento dos Pequenos Agricultores também ajuda a construir o Fórum Alternativo Mundial das Águas. Os integrantes, que são de diversos estados brasileiros, chegaram a Brasília no inicio de março para se somar no evento que garante a discussão da soberania popular pelas águas. O FAMA acontecera entre os dias 17 a 22 de março e é um contraponto ao Fórum Mundial das Águas, evento de caráter corporativo que discute os interesses pela água a partir de grandes empresas como a Coca-Cola e a Nestlé.
Desde o ano passado a Caravana tem focado seu trabalho em comunidades camponesas. Foram mais de 200 comunidades visitadas no Nordeste e em muitas delas a questão do acesso a água foi o eixo de debates e ações. A transposição do Rio São Francisco, que privilegia os grandes latifundiários, as barragens que expulsam camponeses para beneficiar grandes empresas e a falta de políticas públicas para o bom convívio com o clima semiárido, caraterístico do sertão nordestino. No mês de dezembro a Caravana compôs a brigada de juventude que anunciou o Fórum Social em Defesa das Águas do Rio São Francisco e pela Democracia no Sertão de Taparica, em Pernambuco.
“A água é de importância vital para a vida do sertanejo, do camponês, do ribeirinho por que ela atua como meio de produção”, quem avisa é a jovem Fernanda da Luz, de 20 anos, vivente do sertão piauiense e integrante da Caravana. Ele continua “a gente percebe que o Brasil esta no centro dos interesses de lucro das grandes corporações por termos grandes bacias hidrográficas e devemos garantir nosso direito do acesso a água, se não vamos morrer de sede pertinho do bebedouro”. A Caravana se soma ao FAMA para garantir que mais trabalhadores e trabalhadoras entendam a importância da defesa as águas.
Viajando com a Caravana
Desde metade de janeiro, quando retornou suas atividades em 2018, a Caravana Nacional de Luta Camponesa rodou mais de 20 mil quilômetros Brasil adentro. Os jovens integrantes da Caravana cruzaram o país do Sul ao Nordeste com a tarefa de denunciar às investidas do governo golpista na retirada de direitos sociais, na entrega dos recursos naturais e das empresas públicas e na instalação deste projeto antidemocrático que vigora. Mais do que denunciar, a tarefa da Caravana tem sido despertar na classe trabalhadora, em especial a classe camponesa, o sentimento de resistência e de luta organizada.
As atividades da Caravana retornaram durante a preparação do Acampamento pela Democracia em Porto Alegre. Nossa chegada a capital gaúcha se deu alguns dias antes do julgamento do ex-presidente Lula, junto com outros jovens integrantes dos movimentos da Via Campesina e do Levante Popular da Juventude. A segunda parada foi no noroeste do RS, no município de Seberi, onde nos encontramos com outros jovens camponeses gaúchos para apresentar a experiência da Caravana. Ainda no inicio de fevereiro partimos rumo ao sertão pernambucano, atravessamos o país para conhecer de perto a realidade dos trabalhadores do semiárido.
A Caravana é uma experiência pioneira dentro do MPA e está rodando o Brasil desde maio do ano passado. Até dezembro a Caravana atuou junto às bases do movimento nos estados de Sergipe, Paraíba, Bahia e Piauí, além de ter participado de atividades de outros movimentos da Via Campesina, como o 8º Encontro Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens, o MAB, ocorrido em outubro passado na cidade do Rio de Janeiro. Nos oito meses de atuação, em 2017, foram mais de 25 mil pessoas alcançadas por meio das técnicas de agitação e propaganda, como o teatro, a música, a poesia e as artes plásticas.
Cadê as provas
Assim que 2018 apontou no horizonte a Caravana já sabia seu roteiro de atuação para o ano que chegava. O julgamento de Lula marcado para 24 de janeiro nos levou a capital gaúcha, onde está localizado o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), que decidiu a condenação do ex-presidente. Chegamos a Porto alegre semanas antes do Acampamento pela Democracia, para, junto com as juventudes da Via Campesina, do Levante Popular da Juventude e do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD) convidar a população gaúcha para se somarem na luta pela democracia.
A mensagem continua a mesma, denunciamos durante aqueles dias a perseguição política ao ex-presidente Lula por meio do judiciário de forma a cancelar sua participação nas eleições presidenciais neste ano. Não há provas que justifiquem a condenação. “Dizem que ladrão o Lula é, o Temer é que é, o Temer é que é, ladrão!” foi com esta marchinha, junto de um repertório formado por paródias de funk e de outras marchas carnavalescas, munidos de instrumentos de percussão, faixas e adereços que a juventude visitou as comunidades do Humaitá, da Cruzeiro e da Lomba do Pinheiro. A intervenção foi chamada de bloco ‘Cadê as provas’.
Dias antes de o bloco sair às ruas, o grupo concentrou as intervenções em frente ao Mercado Público. Quem passou por lá no dia 16 de janeiro, poderia participar montando um caça-palavra gigante que formava a frase: “Eleições sem Lula é fraude”. Poderia ler também as cartas que apresentavam os desdobramentos futuros do golpe, com a Madame Sabe-Tudo, ou então, em uma calculadora gigante, calcular os prejuízos que o golpe trouxe a classe trabalhadora. Ou poderia simplesmente, dar um abraço pela democracia. “Esta juventude, que esta nas ruas lutando, esta repensando, principalmente depois do golpe, a importância de usar a criatividade revolucionaria para passar nossa mensagem por um Brasil melhor”, quem fala é Sandy Xavier, jovem de 26 anos, integrante do MPA no Rio Grande do Sul.
Durante os dias 22, 23 e 24 o Acampamento pela Democracia no anfiteatro Pôr-do-sol foi morada dos jovens da Caravana. Organizado pela Frente Brasil Popular o acampamento contabilizou mais de 30 mil pessoas, vindas dos mais diversos lugares do Brasil. Na manha do dia 24, a juventude da Caravana se juntou com outros jovens do MPA e saíram em comitiva cantando e gritando palavras de ordem. “Foi muito importante encontrar muitos dos rostos que a gente, quanto Caravana, encontrou durante o ano passado durante nossas atividades pelo Nordeste, e melhor ainda foi ver a unidade nacional do nosso Movimento, inclusive com outras regiões”, Vinícius Goldas, jovem de 23 anos, integrante da Caravana. Ele completa, “muito importante também, observar a unidade entre as juventudes do campo e da cidade, foi um evento lindo”.
Sementes em Seberi
Depois de participar do Acampamento, nossa Caravana seguiu para o noroeste gaúcho, onde encontrou com cerca de 50 jovens na terceira formação para jovens brigadistas. A formação ocorreu entre os dias 29 de janeiro e 3 de fevereiro na sede da Cooperbio, em Seberi. O jovem Jhonata Maurilio, de 22 anos, que é do município de Santa Filomena, no estado do Pernambuco, conta como foi o primeiro dia de formação. “Já no primeiro dia tivemos um espaço de uma analise da conjuntura da América Latina e ainda entendemos o método de uma analise desse teor: precisa-se entender o passado para compreender o presente; compreender o presente para perceber as tendências futuras”.
No domingo anterior ao inicio da formação, 28 de janeiro, a Caravana foi uma das atrações da Festa Anual da Semente Crioula. Onde apresentou a peça de teatro ‘O massacre da Previdência’ sobre as reformas que o governo Temer tinha pautado para votação da previdência social e que saiu de pauta em este ano no Congresso devido à intervenção militar instalada no estado do Rio de Janeiro. Na festa, além da peça, os Caravanistas apresentaram um repertório de músicas animadas, com forró pé de serra, xaxado, baião e entre outros. A Caravana colocou os gaúchos para dançarem a maneira nordestina.
Chuva no Sertão
Depois da experiência com jovens camponeses gaúchos a Caravana seguiu rumo ao estado nordestino de Pernambuco, terra do jovem Jhonata, o novo caravanista. Além da visita ao município do jovem, Santa Filomena, no dia 15 de fevereiro, foram visitados mais 6 municípios das regiões do Sertão do Araripe e do Sertão Central durante os dias 12 e 25 de fevereiro. No total foram mais de 20 comunidades dos municípios de Ouricuri, Araripina, Santa Filomena, Trindade, Cedro e Mirandiba e Bodocó. Apresentações teatrais e rodas de conversa marcaram os encontros com moradores das comunidades.
A caravana encerrou seus trabalhos no Seminário Estadual de Juventude do MPA, que aconteceu entre os dias 24 e 25 na Associação dos Agentes Comunitários de Saúde em Ouricuri. O seminário contou com a presença dos jovens das comunidades por onde a caravana passou. Resultado da vontade de se organizar e discutir com profundidade os temas colocados em suas comunidades. Como a jovem Gérdna Gonçalves, da comunidade de Bom Lugar, do município de Bodocó. “De acordo com as apresentações eles nos mostravam como está a realidade de hoje, e muitas vezes não nos importamos muito, e ver isto, pra mim, foi muito importante e espero que este encontro aconteça mais e mais vezes pois aprendi e descobri bastante coisa” conta.
“Vivemos no Pernambuco uma ligeira lonjura. Ligeira devido ao tempo, que teima em nos apressar, e lonjura pela profundidade das experiências. Sempre, depois das intermináveis estradas de chão, existia alguém que valeu todo o caminho, como dona Abigail na comunidade de Pau de Leite, em Mirandiba, ou como seu Luiz Pereira na comunidade de Caldeirão, em Araripina, entre tantos outros. Comida boa, gente animada e chuva no sertão: foi assim que Pernambuco nos recebeu. A nós só resta agradecer. Obrigado e até breve.” O agradecimento é de toda a Caravana.
Por Caravana Nacional do MPA “Clodomir de Morais”
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