7 de janeiro de 2024
Mateus Pinheiro
Em 7 de janeiro de 1835 a Revolução Cabana, construída por homens e mulheres, negras, mestiças, indígenas, em aliança com outros setores da sociedade, tomou o poder em Belém e instaurou o primeiro governo revolucionário e popular da história do Brasil, a cabanagem alcançou os Lugares, as Vilas e Povoados mais distantes do Pará, atingindo fronteiras internacionais como a Guiana Francesa, Venezuela e o Peru (a região norte, na época da Cabanagem, abrangia quase toda a região norte que conhecemos hoje e mais uma parte do estado do Maranhão – menos o estado do Acre que ainda não fazia parte do Brasil). Os participantes foram trabalhadores, pobres ou não, como lavradores, carpinteiros, carpinas, alfaiates, ourives, sapateiros, correeiros, seringueiros, pedreiros, práticos, borradores, soldados/militares, vaqueiros, pescadores, calafates, fazendeiros, criadores/proprietários, sem ofícios e outros. Os povos indígenas, em especial os mura e os mundurucu, tapuios, mestiços, pretos, tanto de origem africana quanto nascidos no Brasil que, na condição de escravizados/escravizadas ou de libertos/libertas, também entraram na luta do movimento amazônico de 1835. Eles foram chamados e ficaram conhecidos como Cabanos.
Em 7 de Janeiro de 1985, em comemoração aos 150 anos da Cabanagem, inaugurou-se em Belém o Memorial da Cabanagem, localizado no Complexo Viário do Entroncamento, principal ponto de entrada e saída da cidade. O monumento foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer⁵, sendo essa obra a única feita por ele no Norte do país. O intuito desta obra é representar a luta heróica traçada pelo povo cabano. Possui 15 metros de altura e 20 metros de comprimento, com uma rampa elevada em direção ao firmamento. Ademais, tem caráter de museu. Durante o dia 7 de janeiro ocorrem diversas manifestações, culturais, artísticas e políticas em alusão aos heróis e heroínas da Cabanagem, os mais populares são os cortejos na cidade de Belém capital do Estado que reúnem milhares de pessoas.
A província do Grão-Pará compreendia os atuais estados do Amazonas, Amapá, Roraima e Rondônia. A revolta da Cabanagem teve um alcance considerável e se espalhou pelos rios Amazonas, Madeira, Tocantins e seus afluentes. De acordo com os estudos históricos, não se pode reduzir a Cabanagem a uma revolta local ou regional, pois a cabanagem desceu pelos rios por toda a Amazônia brasileira, chegando até aos nossos vizinhos como Venezuela, Peru e Colômbia.
A historiografia clássica ocultou da memória histórica da Cabanagem, quase por completo, a participação ativa de mulheres na Revolução. Mulheres de todas as idades, responsáveis por toda a família nos tempos de guerra, contestando politicamente ou presente nas frentes de combate e resistência (1836-1840). Negras, índias, tapuias… herança viva das lendárias guerreiras Icamiabas.
As mulheres tiveram uma participação fundamental na cabanagem, pois eram elas que se dedicavam à fabricação de farinha e ao cultivo de alimentos para os seus pares que estavam em combate direto com as tropas legais.
Quem eram os chamados cabanos? A Cabanagem é cabocla, indígena e ribeirinha. Autonomia se conquista, quando se tem as condições de produzir ou coletar seu próprio alimento. Sem dúvida, a farinha de mandioca foi uma alimentação que os cabanos comiam, junto com essa farinha andavam as práticas de caça e de coleta nas florestas e rios, fundamentais para que as tropas cabanas se mantivessem saudáveis para atingir os seus objetivos. A Cabanagem envolveu diversos segmentos sociais, mas sua força estava na participação de indígenas, negros e mestiços. Estes grupos formavam a grande massa de revoltosos contra os portugueses.
É importante afirmar que o movimento cabano expressou o desejo de cidadania e autonomia dos povos amazônicos. Conforme afirma a historiadora Magda Ricci, a Cabanagem foi uma revolução social que abalou as estruturas do Império do Brasil.
“A independência não trouxe reformas profundas à estrutura social vigente do período. A Cabanagem foi a única revolta que conseguiu tomar o poder e governar a província por um ano. Foi uma revolução social, que abalou as estruturas do Império, e que teve como protagonistas os índios, os negros, os mestiços e os brancos pobres.” (RICCI, 2002, p. 14)
Cabanagem (1835-1840) – História do Brasil – InfoEscola
Cabanagem. Revoltas do Período Regencial. Guerra dos Cabanos
Cabanagem: contexto histórico, causas e objetivos – Sua Pesquisa
RICCI, M. Cabanagem: a revolução popular da Amazônia. Belém: EDUFPA, 2002.
CARACIOLO, Pâmela Oliveira. Reflexões sobre as memórias da Cabanagem no Pará. Niterói, 2021.
FERREIRA, Eliana Ramos. As Mulheres na Cabanagem: presença feminina no Pará insurreto. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, v. 22, p. 1-8, 2003.
RICCI, Magda. Cabanagem, cidadania e identidade revolucionária: o problema do patriotismo na Amazônia entre 1835 e 1840. Tempo, v. 11, p. 5-30, 2007.
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