29 de abril de 2020

O mês de Abril no Brasil é marcado historicamente pela Luta dos trabalhadores sem-terra e serve como marco referencial às diversas violências cometidas contra os Camponeses e as Camponesas, orquestradas, sobretudo, pelos latifundiários, armados pela pistolagem. Para o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o mês de abril e, em especial o dia 30, tem duplo simbolismo, pois relembra a triste notícia da partida física de dois grandes militantes da luta camponesa: Derli Casali e Maria Izabel, vítimas de um trágico acidente automotivo na cidade de Seabra, na Bahia, que ocorreu em 2011 quando retornavam de uma reunião nacional do movimento.

Nesta data, em homenagem aos dois companheiros que dedicaram não só seu tempo, mas sua vida à organização e à luta camponesa, o movimento decretou o Dia 30 de Abril, como dia Nacional da Memória Camponesa, com o objetivo de manter viva a memória desses e outros tantos lutadores da causa, bem como manter o mês como referência para reforçar as ações de solidariedade junto a sociedade.

Preocupados com a memória e com o legado das lutas e dos lutadores camponeses, em 2014 o MPA também deu início a Escola Camponesa da Memória, que acontece todos os anos no final do mês de Abril com o objetivo de possibilitar espaço de formação para os  jovens das bases do movimento e realizar ações de denúncia juno a sociedade a respeito das diversas violações que a classe camponesa tem sofrido ao longo da história. Assim a experiência da escola fortalece a luta por memória, verdade e justiça e contribui que a juventude siga atuando com memória história e identidade de classe. Este ano em virtude da pandemia do coronavírus não será realizada nos moldes em que foi proposta nos últimos anos, porém, os estudos continuam sobre a realidade do país, do campesinato e, em particular, do livro “Derli Casali: O pensamento de um incansável militante camponês”.

É necessário confrontar os elementos da história, manter vivo o legado de luta e pensamento de nossa gente. A narrativa hegemônica do capital distorce os fatos, omite a verdade e ressignifica os contextos de acordo com os seus interesses. Assim temos nos discursos a negação do campesinato, a legitimação da violência, das desigualdades, do empobrecimento do campo colocado como natural e o agronegócio colocado como necessário.

A crise estrutural que se aprofunda hoje na sociedade se coloca nesse contexto. Portanto a organização e a luta camponesa vinculadas a causa dos trabalhadores e das trabalhadoras seguem sendo indispensáveis na defesa da vida e na projeção de um projeto estratégico de sociedade defendido por tantos lutadores e lutadoras que nos antecederam e nos forjaram para enfrentar as batalhas de hoje com convicção.

Como movimento camponês, o MPA tem entre suas tarefas manter viva a memória, afirmar o campesinato como sujeito com papel indispensável à sociedade, com sua identidade contida nas formas de desenvolver suas experiências de vida e de lutas.

A memória e o legado da luta dos companheiros Derli Casali e Maria Isabel, seguem nos direcionando aos atos de solidariedade que necessitamos realizar nesse templo complexo da história do país, sobretudo no que se refere ao enfrentamento as situações de fome. Necessitamos seguir dando passos na construção de uma sociedade justa e igualitária. Que a memória dos lutadores que tombaram na luta siga nos dando base para construção dos caminhos e transformações no nosso país.