30 de março de 2023

Resistimos à repressão de nossas lutas: diante das crises globais, construímos a Soberania Alimentar para garantir um futuro para a humanidade!

La Via Campesina | Bagnolet (França)

O Dia Internacional das Lutas Camponesas é memorado pela Via Campesina todos os anos em 17 de abril para lembrar o massacre de Eldorado do Carajás em 1996, onde a máquina do Estado brasileiro, em cumplicidade com os interesses do agronegócio, assassinou 19 camponeses que defendiam seu direito à terra. Neste dia, também destacamos e denunciamos a contínua criminalização, opressão e repressão de camponeses, trabalhadores rurais, mulheres rurais, migrantes e comunidades negras e indígenas em todo o mundo.

Só nos últimos meses, movimentos sociais no Brasil, Palestina, Paraguai, Colômbia, Mali, Equador, França, Espanha, Tailândia, Sri Lanka, Indonésia, Coreia do Sul, Quênia, Canadá, Haiti, Guatemala e Peru alertaram o mundo sobre graves violações dos direitos das comunidades camponesas e rurais.

A fome também é violência. A pandemia e os conflitos em curso apenas exacerbaram a fome. Todas essas supostas crises não fazem nada além de questionar o modelo capitalista neocolonial atualmente dominante. Nossos territórios, cujo clima e biodiversidade são continuamente destruídos à medida que novas e cada vez mais perigosas tecnologias são impostas por interesses corporativos sem qualquer debate, consulta ou participação pública, veem todos os seus sistemas de vida ameaçados. A instabilidade política e social é generalizada como resultado de assassinatos sistemáticos, massacres, desaparecimentos forçados, altos índices de feminicídio, prisões e detenções arbitrárias, intimidações, perseguições e ameaças, perseguições a defensores dos territórios, migrações forçadas e guerras contra nossos povos.

Neste 17 de abril, mais do que nunca, reafirmamos que nossa luta faz parte da defesa dos direitos humanos e da vida, conforme indicado na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Camponeses e Outras Pessoas que Trabalham no Campo (UNDROP). Diante do avanço do capital sobre territórios até recentemente considerados “marginais”, os camponeses, indígenas e demais habitantes do campo representam a principal fronteira de resistência contra o hidroagroextrativismo das megacorporações transnacionais. La Via Campesina é uma expressão dessa ação e resistência coletiva. Este ano, quando nosso movimento global completa 30 anos, intensificamos nossas lutas para construir um modelo sistêmico alternativo que garanta a justiça em todas as suas dimensões.

O dia 17 de abril é, portanto, um momento para reafirmar nossas propostas concretas. Construiremos uma sociedade melhor na qual nossas diversas sociedades tornem realidade sua soberania alimentar através da prática da Agroecologia Camponesa. Continuaremos a defender nossos direitos usando o UNDROP e outros instrumentos internacionais. Construiremos sociedades melhores com justiça social. Nossa produção local de alimentos, autodeterminação com dignidade, paz, feminismo camponês popular e soberania dos povos só são possíveis com essas ferramentas. Não há futuro sem Soberania Alimentar!