15 de agosto de 2018

O argentino Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, visitou os sete grevistas na tarde desta segunda-feira, 13 de agosto, no Centro Cultural de Brasília (CCB). Vilmar Pacífico, Jaime Amorim, Zonália Santos, Frei Sérgio Görgen, Rafaela Alves, Luiz Gonzaga (Gegê) completam hoje 14 dias sem se alimentar e Leonardo Soares completa o 8º dia consumindo apenas soro e água.

Durante a visita aos grevistas Esquivel destacou a importância deste ato extremo de luta no atual contexto de violação de direitos e explicou que, ainda que pacífico, se forma como uma expressão de luta imprescindível. O escritor e ativista argentino deteve-se ainda no conceito de paz, que na sua interpretação é parte do processo revolucionário de transformação social. “A paz não se ganha, se constrói. E fiquemos atentos: paz sem liberdade jamais será paz”. Para Esquivel, sem liberdade se perde tudo, inclusive a capacidade amar. “Não se pode amar por decreto”, afirma.

O Nobel argentino tem percorrido o mundo denunciando os golpes na América Latina e, antes sair, deixou um grande questionamento: “O que deixaremos aos nossos filhos e aos filhos dos nossos filhos?” Segundos de silêncio perturbador separaram a pergunta e a resposta: “Hoje semeamos o que eles vão colher, o que nossos filhos e os filhos dos nossos filhos vão colher: Se semearmos ódio, eles vão colher a vingança; se semearmos amor, eles vão colher esperança e paz”.

Pela parte da manhã foi realizado um Ato Inter-religioso em frente à casa do Ministro do STF, Edson Fachin. Além dos sete grevistas, estiveram presentes lideranças dos Movimento Populares, indígenas e quilombolas, simpatizantes da Greve de Fome e integrantes da Marcha Nacional Lula Livre, que integram uma das três colunas que se deslocam em direção à Brasília (Coluna Prestes, que vem das regiões Sul e Sudeste). O ato teve a participação do pastor Jaime Meireles (Assembleia de Deus), Frei Wilson Zanatta (Capuchinho), Reverendo Luis Sabanay (Igreja Presbiteriana), João de Deus (Comissão de Justiça e Paz), Monja Aida Kakuzen (Zen Budista), Cleber Buzato (CIMI), padre Renê Parren (católico), além dos indígenas Cosmo e Estevão (representantes do povo Xavante).

“Neste ato juntamos a nossa voz ao gesto dos grevistas em fome, em atitude de indignação diante de tudo que nós presenciamos hoje no Brasil e na América Latina, por isso nós elevamos nossa voz movidos por gestos de justiça, pela nossa convicção e pela vida, o que nos move é uma intenção nobre”, aponta Padre Renê. “Nosso país se encontra à deriva, com a fome aumentando cada vez mais, portanto pedimos que o Deus dos pobres, dos destruídos nos abençoe e nos proteja” arrematou o religioso de origem belga que deixa sua vida e obra ao trabalho com direitos humanos no Brasil.

As visitas foram intensas durante todo o dia, com presença de pessoas residentes em Brasília que vieram se solidarizar, delegações de participantes das três colunas em marcha. As atividades do dia encerraram com uma apresentação de choro e samba, com canções que historicamente tornaram-se populares por expressar um norte de resistência através da cultura.

 
Por Adilvane Spezia e Marcos Corbari | MPA e Rede Soberania