16 de julho de 2018
Quando em 5 de abril deste ano foi expedida uma ordem de prisão contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva certamente o cenário desejado por seus algozes era bem distante do que temos hoje.
Em São Bernardo, Lula avisou: “não se pode prender uma ideia”. Cem dias após trancarem a ideia de um Brasil melhor em uma masmorra em Curitiba, a inabalável liderança de Lula nas pesquisas eleitorais demonstra um recado claro da maioria do povo brasileiro, que confia no ex-presidente como a única liderança capaz de reconstruir um país arrasado pelo golpe.
Do lado de cá, em Curitiba, a ideia presa em uma cela no pacato bairro de Santa Cândida pulsa em um ritmo ainda mais frenético. Para Lula, já são cem dias pensando em uma rota de fuga para o país sair da crise. O menino que venceu a fome em Caetés não se intimida pela simplicidade das quatro paredes que o confinam. São duas coisas que movem Lula: pensar o Brasil e reafirmar sua inocência.
Quem o visita vive uma colisão de impressões que vão da alegria instantânea por reencontrá-lo e observar sua resiliência à frustração de deixar a sede da PF sem ele. A sensação de confrontar a injustiça. De encontrar um dos brasileiros que mais fez pelo país com uma mente fervilhando de soluções, mas cerceada pelo fim do Estado Democrático de Direito.
– “Quanto mais dias me deixarem lá, mais Lulas vão nascer nesse país”
O alerta de Lula antes de sua detenção se materializou. A essa altura, já é evidente que o ex-presidente não está preso por um apartamento em que sequer passou uma noite. Não está preso por um imóvel do qual nunca teve a chave.
Em cem dias, uma sucessão de manobras jurídicas para impedir sua liberdade passou a descortinar o fato de Lula ser, mais uma vez, um preso político. E foi em 8 de julho que este fato ficou claro. Lula não deixou a Superintendência da Polícia Federal mesmo sob ordem judicial. Mesmo tendo em posse um alvará de soltura. “O doutor Moro ligou. Quer checar com a turma (do TRF4). Mas vamos liberar ele daqui a pouco”, informou um dos agentes da PF aos advogados do ex-presidente.
Mas Lula não saiu de lá. Mesmo sob o alerta de sua defesa de que o caso não estava mais sob a jurisdição do juiz de primeira instância. A sucessão de manobras para impedir sua soltura garantiria, mais uma vez, o confinamento de um homem condenado por um crime sem provas.
Lula conhece o caminho traçado por seus acusadores. “Não vou trocar minha liberdade pela minha dignidade”, afirmou ao ex-chanceler Celso Amorim na última quinta-feira (12). Amorim, que ao lado de Lula testemunhou o Brasil se transformar em uma potência respeitada mundo afora, foi um dos que relataram a profunda preocupação do ex-presidente em recuperar a soberania nacional, um dos fundamentos de um eventual terceiro mandato de Lula.
Cem dias após sua prisão política e impedido até mesmo de dar entrevistas como os demais pré-candidatos, Lula assiste hoje suas ideias correrem soltas fora da clausura que o detém.
Na Vigília Lula Livre, renasce a esperança
É no fim da longa e íngreme subida da rua Guilherme Matter que a Superintendência da Polícia Federal de Curitiba se localiza. Há cem dias a realidade do silencioso bairro residencial de céu azul e araucárias se transformaria por completo.
Na frente da PF, um café recém inaugurado teve o lucro triplicado. Ao lado, uma nova lanchonete inaugurada. “Até preso o Lula gera renda” virou um bordão dos ambulantes locais. No fim da rua Sandália Monzon, uma senhora transformou o porta malas de seu carro em uma pequena venda de lanches. “Eles deveriam ter soltado ele no domingo. O Moro não tinha nada a ver com isso”, diz a ambulante a um servidor da PF, ao observar o prédio onde Lula está detido.
Um bloqueio impede os apoiadores de Lula de se aproximarem da Polícia Federal. Há 100 dias eles eram recebidos a bombas de gás lacrimogêneo. A intenção era dispersá-los. Não deu muito resultado. Nem a temperatura, nem os ventos gelados de um dos bairros mais altos de Curitiba pôde afastar o povo que insiste em resistir junto à Lula.
Na Vigília, histórias como a dos jovens Gabriel Kertischka e Francielle Silva se cruzaram mais uma vez com a de Lula. O casal, que se conheceu em Porto Alegre em um ato com Lula na véspera de seu julgamento no TRF4, acabou começando a namorar durante a caravana do ex-presidente pelo Sul.
Gabriel, que se filiou ao Partido dos Trabalhadores durante o processo do impeachment, decidiu montar uma lojinha de camisetas e artigos em referência à Lula. As vendas dispararam. Eles estavam lá quando no dia 7 de abril Lula pousou no heliponto da PF escoltado por agentes federais. Resistiram às bombas e permaneceram na vigília por longos dias e um inverno severo.
Fran hoje carrega a esperança de um futuro melhor na resistência e na barriga. Estão à espera de receber dois Lulas: o presidente e um filho, que carinhosamente chamam de filho da resistência, e que pretendem batizar (se nascer menino), de Luiz Inácio Lula da Silva Kertischka. Porque a esperança renasce e se renova pelo povo. E os milhões de Lulas não vão parar de nascer.
Por lula.com.br
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