2 de maio de 2025

10 Anos da Primeira Reunião Estadual do MPA no Rio de Janeiro

Um marco na construção da luta camponesa e popular no estado.

Por Daniela Egger, Beto Palmeira e Robledo Mendes

Há 10 anos, em um momento de grandes desafios e esperanças, camponesas e camponeses do estado do Rio de Janeiro se reuniram pela primeira vez em uma reunião de caráter estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Esse encontro histórico, realizado nos dias 1 e 2 de maio de 2015, no Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH), em Petrópolis, contou com a presença de companheiras e companheiros de Petrópolis, Campos dos Goytacazes, São João da Barra, Rio de Janeiro e Nova Iguaçu — todos com os olhos voltados para pensar a possibilidade de construção do MPA no estado.

Foi ali que se lançaram os primeiros desafios da organização do Movimento no território fluminense, a partir das experiências concretas dos territórios e das lutas por terra, água, produção, abastecimento popular, soberania alimentar e pela permanência digna das famílias no campo.

A conjuntura do Brasil já sinalizava os ventos de um golpe político nacional, e naquele espaço coletivo se debatiam as tarefas necessárias para construir um movimento camponês enraizado e capaz de enfrentar os tempos difíceis que se aproximavam. Vale lembrar que o ano de 2015 contou com vários eventos políticos, incluindo a posse da Presidente Dilma Rousseff para o seu segundo mandato, após uma disputa eleitoral muito acirrada. Neste mesmo ano, o cenário nacional estava marcado por crises importantes que iriam revelar, no ano seguinte, 2016, o processo de construção de um golpe, em andamento, contra a democracia brasileira.

Naquela reunião também foi construída a participação do estado na preparação do I Congresso Nacional do MPA, que ocorreria em outubro de 2015. A principal tarefa assumida pelos presentes era mobilizar os territórios e garantir a presença de uma delegação do Rio de Janeiro no Congresso, aprofundando o enraizamento político e organizativo do MPA no estado.

Daniela Egger, que contribuiu diretamente na organização dessa primeira reunião, ressalta que “a reunião em Petrópolis, semeou um conjunto de propostas e ideias para aprofundar a organização do movimento no estado do Rio e naquela região. O encontro ali semeado trouxe colheitas aos camponeses e camponesas do MPA do Rio de Janeiro, consolidando uma perspectiva solidária e coletiva da trajetória do movimento e, sobretudo, indicando os desafios para avançar em sua organização. Além do contexto político complexo que já se anunciava adiante, a reunião em Petrópolis nos indicava algo que ainda não tínhamos lido ao horizonte da conjuntura, mas que também colhemos.

Podemos lembrar que este encontro, que foi realizado no contexto de territórios que estavam, a poucos anos, sustentando a resiliência após chuvas de 2011, que, àquela época, configurava uma das maiores emergências climáticas da região serrana do Rio de Janeiro. Estávamos reunidos e reunidas diante de uma experiência vivida no contexto das mudanças climáticas que já se anunciava naqueles territórios dez anos atrás. Foi um encontro que, até hoje, nos relembra a centralidade dos camponeses e camponesas no contexto das emergências climáticas, sanitárias e outras, na contraposição à escassez, à falta, à fome”.

Esses 10 anos são tempo de memória, mas também de renovação do compromisso com a classe trabalhadora. São anos de feiras, cestas camponesas, formação, produção camponesa, Raízes do Brasil e alianças com os setores populares urbanos. São anos de teimosia e firmeza em construir um movimento camponês no estado mais urbano do Brasil — tarefa que exige decisão política, paciência e visão estratégica.

Lembrar dessa primeira reunião estadual é reafirmar que seguimos firmes, organizando as forças do povo, construindo agroecologia camponesa e fortalecendo o abastecimento popular.