3 de fevereiro de 2020

Representantes de movimentos sociais, deputados e vereadores foram impedidos de acessar o prédio onde os cinco integrantes da Comissão Permanente de Negociação permanecem há quatro dias

A ação da Comissão Permanente de Negociação da Federação única dos Petroleiros (FUP), que desde sexta-feira se recusam a deixar a mesa do Edise, na sede da Petrobrás, começa a ficar crítica. Os cinco integrantes insistem pela retomada da pauta de negociações com a empresa ou afirmam que não vão se retirar do local. Do outro lado, mesmo sendo pacífica a manifestação do grupo, a intransigência já ganha características de desumanidade, pois além de deixar a sala onde estão instalados sem ventilação, impedem a entrada de alimentos e água.

Como a empresa se recusou a atender aos pedidos insistentes dos petroleiros e petroleiras que se postaram a frente do prédio em solidariedade aos quatro companheiros e uma companheiras que permanecem no interior, os movimentos sociais que apoiam a Greve dos Petroleiros e autoridades de npivel local, estadual e federal também foram impedidos de acessar o local.

– Pela manhã tivemos uma primeira informação que seria permitido que os movimentos entregassem uma cesta de alimentos para o grupo, depois nos informaram que uma pessoa apenas seria autorizada, porém o tempo passou e passaram a negar até mesmo essa possibilidade – explica Maria Kazé, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). “A informação que nos passaram por fim diz que a Petrobrás não vai deixar entrar nenhum alimento”, relata a camponesa. Segundo ela uma série de autoridades também tentaram acessar a sala onde o grupo está – Jandira Fegali, Lindberg Farias, vereador Babá, Mônica Francisco, vereador Reimont, vereador Glauber, entre outros – mas a intransigência não diminuiu em nenhum momento e todos tiveram o acesso negado.

– É isso, virou questão humanitária, nossos companheiros e companheira não podem sequer descer para pegar a comida -, aponta Kazé. “É um tratamento pior do que se dá para um prisioneiro de guerra, que mesmo nos piores conflitos tem direito a acessar água e alimento”, acrescenta. Segundo a FUP, ainda no domingo foi registrado em vídeo a ação de um segurança da empresa impedindo que água e alimentos fossem entregues. A iniciativa contou ainda com a paticipação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Levante Popular da Juventude (LPJ), União Nacional dos Estudantes (UNE), além de outras representações sindicais solidárias ao movimento grevista.

Greve e ocupação tem vitórias na Justiça

Em duas decisões consecutivas no sábado (01/02), a Justiça do Trabalho do Rio de janeiro negou liminar à Petrobrás, que pretendia expulsar a Comissão do prédio. A juíza Rosane Ribeiro Catrib autorizou a permanência dos petroleiros, enfatizando a legitimidade da Comissão de Negociação. A gestão da Petrobrás, no entanto, continuou apostando no confronto e desligou a energia elétrica e o fornecimento de água no andar onde estão os dirigentes da FUP.

A juíza expediu nova liminar, determinando o restabelecimento da luz e água, sob pena de multa de R$ 100 mil por hora de descumprimento. A gestão da empresa atendeu, parcialmente, a determinação, religando a luz e a água, mas ainda mantém o ar condicionado da sala desligado. A sala onde estão os petroleiros continua sem qualquer tipo de ventilação, apesar do calor escaldante do Rio de Janeiro.

A Comissão de Negociação Permanente da FUP não recuará e continuará na sede da Petrobrás até que a gestão da empresa apresente uma solução que evite a  demissão em massa dos trabalhadores da Fafen-PR e estabeleça negociações que de fato atendam ao que foi pactuado no Acordo Coletivo de Trabalho, em novembro do ano passado.

Do lado de fora, a greve dos petroleiros segue forte em todo o país, nas unidades operacionais, e ganhará reforço nesta segunda, com a adesão dos trabalhadores do horário administrativo. Diversos atos estão acontecendo nas bases do Sistema Petrobras e em frente à sede da empresa, no Rio de Janeiro, em solidariedade à luta dos petroleiros.

Informação:

Os petroleiros de sindicatos filiados à FUP iniciaram uma greve nacional por tempo indeterminado à zero hora de sábado (1/2). O balanço parcial feito pela federação até o momento contabiliza a adesão de milhares de petroleiros de 20 bases operacionais, em 11 estados do país até o início da manhã de segunda (03/02).

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Marcos Corbari