20 de novembro de 2018
Dentre os debates temáticos da 14ª Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica (COP-14), realizada em Sharm El Sheikh, no Egito, o sequenciamento genético digital esteve em destaque.
O debate iniciou-se no último domingo (18), mas um grupo de contato foi criado para realizar debates diários a fim de fazer ajustes nas posições expressadas no texto que será acordado entre os países sobre este tema, o qual se relaciona com a Convenção da Diversidade Biológica e com o Protocolo de Nagoya.
A digitalização de sequência genéticas de organismos, espécies vegetais e animais em um “banco” digital pode gerar uma série de consequência como a ampliação do desenvolvimento de organismos artificiais e sintéticos, a apropriação privada do patrimônio genético dos povos e a dificuldade de repartição dos benefícios de biologias sintéticas que derivam de dados de espécies desenvolvidas por povos indígenas e comunidades tradicionais.
As organizações e movimentos sociais brasileiros haviam se posicionado sobre este tema na carta aberta para a COP 14, afirmando que: “A posição do órgão subsidiário de assessoramento científico, técnico de tecnológico (SBSTTA), em seu 22o encontro, escancara a disputa entre países do norte e do sul global, indicando: a) a relação explícita entre informações digitais de sequências genéticas com a privatização da biodiversidade e dos conhecimentos associados, minando a Soberania Alimentar mundial; b) a ausência de consentimento prévio, livre e informado para informações digitais de sequências depositadas em bancos públicos, o que elimina a rastreabilidade; c) a disputa em relação à repartição de benefícios oriundas do uso de informações digitais de sequências genéticas; d) a possibilidade de aumento dos eventos de biopirataria em função das técnicas de digitalização de sequências genéticas”.
A Via Campesina e o Comitê Internacional de Planejamento para a Soberania Alimentar (CIP) prepararam intervenção em plenária, mas a palavra não foi aberta neste tema para a sociedade civil, havendo apenas manifestações oficiais dos países. A posição da Via Campesina e da CIP buscava reiterar que a informação digital sobre sequências de recursos genéticos provém dos recursos genéticos materiais e a utilização dessas informações levam aos mesmos resultados da utilização dos recursos genéticos materiais ou biológicos. Assim, pedia que houvesse regulação da utilização das informações digitais, a participação dos indígenas e comunidades locais no grupo de debates e criticava o risco de biopirataria dessas tecnologias.
Durante o debate oficial, esteve em evidência a posição do grupo africano e dos países megadiversos, este último representado pelo Brasil, os quais se posicionaram pela repartição de benefícios das biologias sintéticas, vez que os dados de sequenciamento genético se enquadram na CDB e seus protocolos.
A União Europeia se posicionou pela necessidade de acesso aberto aos bancos de dados de sequenciamento genético, entendendo que isso poderia já se caracterizar como o compartilhamento de benefícios, o que viola os direitos coletivos das comunidades tradicionais e povos indígenas que desenvolveram o patrimônio genético a partir de seus conhecimentos tradicionais.
Também é importante mencionar as posições liberais radicais como a do Japão, Suíça e Nova Zelândia que mencionaram que as obrigações de repartição de benefícios referem-se apenas a recursos genéticos materiais.
*Naiara Bittencourt é assessora jurídica da Terra de Direitos e Cláudia de Pinho é presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT).
Por Naiara Bittencourt e Cláudia de Pinho
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |