22 de junho de 2018
Na visita fraterna que fiz ao Presidente Lula na prisão de Curitiba, ele explicou que encarava sua situação de preso político sem culpa e sem prova como uma provação.
Mais não disse e nada mais lhe perguntei.
Encuquei depois quando me perguntaram o que estaria querendo dizer o Presidente com esta expressão. Não sei. Na próxima vez, se houver, lhe pergunto.
Enquanto isto, puxo por minha memória e reflito sobre o conteúdo desta expressão ao longo de minha formação religiosa, onde este conceito é muito utilizado.
Na pedagogia franciscana, o período de noviciado, o primeiro ano de frade, é considerado “tempo de provação”. Um tempo de aprendizado, de experiências novas, de muita contemplação, muita oração, muito discernimento sobre o que se quer para o futuro e tempo de testar limites. Experimentar o novo e a capacidade de cumprir os deveres implícitos na vocação que se está assumindo.
Meu mestre de noviciado colocava como elemento de provação ser capaz de exercer a humildade no dia a dia, superar a autossuficiência e a arrogância e ser capaz de executar atividades que me eram difíceis de fazer. “Você não pode fazer só o que gosta, tem que fazer o que é preciso”. Nesta pedagogia, a provação é uma preparação para ser capaz de enfrentar limites, superar dificuldades e capacitar-se para ser fiel à vocação e exercer a missão em qualquer situação, mesmo difíceis e com sacrifícios.
Mas no cristianismo primitivo é que lembro o significado de provação mais próximo do que passa o Presidente Lula.
Nos tempos do Império Romano e dos cristãos perseguidos, provação significava ser fiel a Jesus, à fé, ao Reino de Deus, apesar da perseguição, da prisão e da tortura. Alguns casos, até à morte. Foi o tempo do cristianismo das catacumbas – esconderijos em cavernas – onde os cristãos se reuniam, se fortaleciam, celebravam, partilhavam o pão, se solidarizavam e voltavam para a missão.
Passar pela provação era não fraquejar, não desanimar, não negar e não trair.
Creio que é isto o que está vivendo Lula. E com ele, os pobres deste país, com a fome voltando, com o sistema de saúde aos pedaços, com o gás caro, com o desemprego desgraçando as famílias, com a insegurança nas portas das casas, etc, etc. E o motor da esperança trancafiado em Curitiba.
Aos cristãos daquela época, o Senhor Jesus lhes dizia, conforme o Evangelho de Mateus: “Bem-aventurados os perseguidos por causa da Justiça, porque deles é o Reino dos Céus”.
E antes que me venham com aquele lugar comum de que “Reino do Céu” é uma alienação e uma quimera, recordo o que rezamos eu e o Presidente no Pai Nosso “venha a NÓS o VOSSO REINO assim na TERRA como no CÉU”.
Na vida, na prática e na pregação do Nazareno, Reino de Deus começa aqui e é vida digna e feliz, com abundância, para todas e todos.
Sairemos da provação – Povo e Lula, Lula e Povo – com luta e organização, para um longo período de profundas transformações estruturais na construção da Nação Brasileira.
Por Frei Sérgio Antônio Görgen – Frei da Ordem Franciscana, militante do MPA e autor do livro “Trincheiras da Resistência Camponesa”
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