16 de outubro de 2017
Análise é do ex-combatente Ubiratan de Souza, que lutou contra a ditadura ao lado de Carlos Lamarca.
Entre os momentos de formação proporcionados aos participantes do Acampamento Estadual da Juventude Camponesa do MPA/RS, realizado em Gravataí entre os dias 12 e 15 de outubro, um em especial chamou atenção: o encontro entre a geração que tem sido desafiada a lutar pela manutenção de seus direitos no tempo presente, com um dos homens que pegou em armas no passado não tão distante para lutar contra a ditadura civil-militar que impunha no país a lei do silêncio àqueles que discordavam de seus expedientes. Ubiratan de Souza, condinome Gregório, fez parte da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), combatendo com a insígnia de comandante, ao lado do general Carlos Lamarca.
– A juventude hoje tem todos os motivos para lutar contra este modelo de sociedade que se baseia no capital globalizado e buscar um outro tipo de sociedade a partir do modelo de transição ao socialismo -, refletiu Souza. “São muitos os paralelos entre o que vivemos nos dias mais tensos do regime militar e o que presenciamos hoje como ações do governo atual, resultado de um golpe midiático-judiciário que tem imposto a queda de direitos essenciais”, refletiu. Entre os fatores paralelos, Bira lembra que no período pós 64 o governo ditatorial empreendeu ações de desmonte da educação pública a partir do acordo MEC/USAID, firmado entre o Ministério da Educação brasileiro e a United States Agency for International Development para reformar o ensino brasileiro de acordo com padrões impostos pelos EUA. Esse acordo visava fragilizar a educação garantida pelo estado aos filhos dos trabalhadores e fortalecer o ensino privado que abrigava apenas os filhos da burguesia mais abastada. “Não é tão diferente do que vemos hoje esse governo fazer ao fragilizar o ensino público, ao propor a reforma do ensino médio com a supressão de disciplinas que instigam o questionamento e mesmo encolhendo os investimentos que garantem o desenvolvimento além do ensino, também da ciência e tecnologia”, comentou.
As reformas da legislação trabalhista e da previdência também mereceram atenção do ex-guerrilheiro, pois para ele levam o jovem a não ter mais uma perspectiva mínima de futuro, vivendo a realidade de um estado recessivo, o abandono de um projeto de nação nacional-desenvolimentista com distribuição de renda, sem a expectativa de no futuro ter um emprego qualificado. “A tendência hoje do capitalismo globalizado é a diminuição do emprego industrial e o aumento de serviços com condições de trabalho deterioradas e com baixos salários”, acrescentou.
Questionado sobre as armas que o jovem deve empunhar neste tempo, Bira não titubeia em citar a comunicação como ferramenta estratégica. “O jovem pode compreender as ferramentas que estão a seu dispor, como a internet e particularmente as redes sociais que eles dominam tão bem, como armas para empreender uma guerrilha de comunicação, assim contrapondo os grandes meios de comunicação de massa como as emissoras de televisão, rádio e jornais que diariamente entram nas casas da população”, explica. Da plateia, porém, veio um alerta pertinente: a compreensão dos meios de comunicação interpessoal como armas de combate ao discurso hegemônico, por si só o acesso a essas ferramentas não é suficiente para efetivar sua utilização, é preciso dispender de tempo de aprendizado para sua utilização ideal e dispor-se ainda cada indivíduo a arcar com a responsabilidade de desenvolver a sua própria munição, que no caso é a informação com criticidade e consciência. “Hoje nós temos uma espécie de ditadura, que pela dominação dos grandes conglomerados de mídia bloqueia o acesso a informação crítica para a maior parte da população, precisamos de imediato furar esse bloqueio e fazer circular essa informação e dar a sociedade a consciência da situação a que está exposta”, emendou.
O chamado parece ter sido ouvido pelos jovens presentes na sala de formação ao final da tarde chuvosa. Se para acolhê-lo já na chegada postaram-se em pé e aplaudiram, o final guardaria uma prova ainda maior de respeito e gratidão pelos sacrifícios empenhados pelos que dispuseram-se a lutar com todas as suas forças pela reedificação da democracia: ao som de palavras de ordem que enunciavam a memória dos guerreiros caídos, “por cada um de nossos mortos, nem um minuto de silêncio, mas uma vida inteira de luta” formou-se uma grande fila para abraçar o velho comandante.
Por Marcos Corbari / Jornalista / MPA
Fotos: Wandoir Sehn / Lucas Pinheiro / MPA
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