17 de novembro de 2016
Camponeses, camponesas, povo indígenas e quilombolas na tarde do segundo dia, 17, do Seminário Nacional “MATOPIBA: conflitos, resistências e novas dinâmicas de expansão do agronegócio no Brasil”, debate sobre “O respeito aos modos de vida e a produção de alimentos saudáveis: soberania alimentar e a ameaça do uso intensivo de agrotóxicos”.
Maria Emília Pacheco da FASE e do CONSEA, fala sobre o respeito aos modos de vida é falar dos sujeitos que vivem nesse território, é falar como esse projeto afeta também os hábitos alimentares desses sujeitos. “Somos povos do Cerrado temos direitos, a natureza tem direito. O Cerrado perdeu o cheiro, acabou o puçá, caju do campo, as sementes secaram. O Cerrado está clamando por vida”, conta Aparecida da Comunidade Quilombola Grotão, TO.
A Revolução Verde separou os povos tradicionais do meio ambiente, por meio da desapropriação e despropriação de seus territórios. “Nós temos uma missão história, nós temos que encontrar uma forma de reconstruir as relações da natureza, defendendo os direitos dos povos indígenas, tradicionais e camponeses”, explica Maria Emília.
É preciso compreendermos que a ideia de território é onde se vive, é um lugar dos ritos, da religiosidade, portanto, “os camponeses e camponesas são os sujeitos históricos”, afirma Maria Emília. É por essa razão que a muito tempo os movimentos sociais que fazem parte da Via Campesina questionaram e chamaram a atenção dos órgãos internacionais sobre o conceito de Soberania Alimentar. Hoje, a Soberania Alimentar é tida como um direito, “é uma definição muito importante pois 75% dos alimentos produzidos no mundo vem da Agricultura Camponesa”, argumenta ela.
Há uma ameaça permanente do cerceamento à terra, ao direito do livre uso dos territórios e ao exercício dos seus livres saberes. Quanto a essas ameaças “nós precisamos responder que acenamos para o futuro, pois não há biodiversidade conservada se não há o que chamamos de Sociobiodiversidade, a qual não haveria sem as populações indígenas, quilombolas e camponeses. Visando não só pela parte da produção, mas também de sementes e venenos”, argumenta a representante da FASE e CONSEA.
Essas ameaças têm afetando diretamente a alimentação das populações, que estão sendo forçadas pelo Capital, representado no campo pelo Agronegócio, a deixar de produzir frutas e verduras para o consumo e substituí-los pelos produtos ultra processados, que por consequência tem sida a causa de doenças como a obesidade. Outra questão, é a Biofortificação de sementes, uma manipulação perigosa que torna as sementes artificiais e por consequência a alimentação.
Comer é um ato político, “acho que precisamos enfrentar de fato o tema e fazer o diálogo com a sociedade sobre a redução da nossa diversidade alimentar e as ameaças do uso de agrotóxicos, pois só comida de verdade no campo e na cidade, produz Soberania Alimentar. É preciso cuidar e respeitar os processos culturais, hoje há o reconhecimento histórico e cultural material, porém precisamos debater sobre o valor histórico cultural imaterial”, enfatiza Maria Emília.
Maria Socorro, do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), fala sobre os impactos na vida das mulheres quebradeiras de coco, considerando que o babaçu é fonte de renda para mais de 400 quebradeiras de coco. “Os impactos desse modelo não alimentar, pois prefiro chamar assim, afeta diretamente os territórios, e como é que vamos viver se estão tirando nossas terras, e não é só o babaçu, tem as plantas medicinais”, explica Socorro.
Ela ainda coloca que “o desenvolvimento sustentável é aquele em que você tem todos os dias o que comer, não é aquele que você tem só uma vez, isso não sustenta. Temos feito o lançamento da Lei do Babaçu Livre, para que as mulheres possam poder buscar o babaçu onde ele esteja. Babaçu Livre é Povo Livre”.
Por sua vez, Cleber Folgado da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, fala sobre os agrotóxicos, sua origem e suas consequências. “Eles fazem parte de um pacote de imposição do Estados Nacional, é resto das armas químicas da II Guerra Mundial adaptadas para o uso no campo com a justificativa de matar e a fome e de facilitar o trabalho no campo”.
É importante destacar que essa imposição é histórica e tem sido feita aos camponeses, criando um ciclo vicioso com a contribuição do Estado. “O Agronegócio é uma aliança de classes entre o capital financeiro, as transnacionais e o latifúndio economicamente “bancado” pelo Estado. Não podemos esquecer do papel que a mídia tem cumprido na criação da Monocultura da Mente, cientes de que o Capital é expert em criar coisas inúteis”, esclarece o representante da Campanha.
Na saúde a uso de agrotóxicos está relacionado as intoxicações agudas que são imediatas, e as crônicas, causadas pela acumulo diário do consumo de agrotóxicos em nosso organismo. “No Brasil, os agrotóxicos matam muito mais que os casos de Zika Vírus, a cada dólar 1 dólar gasto em agrotóxicos é gasto 1,28 dólares em saúde nos casos agudos, ou seja, imediatos”, explica Folgado.
Quando olhamos para o Meio Ambiente o uso abusivo de agrotóxicos tem causado distúrbios e o extermínio da biodiversidade, o que causa um impacto direto nos sistemas produtivos. Sem contar que quando olhamos para o econômico, contata-se que as empresas têm isenções fiscais e recebem investimentos por parte do Estado. É por essa razão que o país se tornou a maior lixeira tóxica do mundo, sendo que desde 2008 somos campeões mundiais em consumo de agrotóxicos.
Folgado fala ainda sobre as fusões da Bayer e da Monsanto, representando um grande ameaça pois, uma é a grande produtora de sementes transgênicas e a outra grande produtora de veneno. Desmistifica os mistos com relação aos agrotóxicos e suas aplicações, do desmonte normativo (no legislativo, executivo e judiciário), assim como, o papel e as ações da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
O Seminário Nacional “MATOPIBA: conflitos, resistências e novas dinâmicas de expansão do agronegócio no Brasil” iniciou do dia 16 e se entende até a sexta-feira, 18. Organizado pela Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, que tem como lema “Sem Cerrado. Berço das Águas: Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida” o evento está sendo realizado no centro de formação da Contag, com o objetivo de estudar, debater e traçar os próximos passos a serem adotados para barrar esse projeto de expansão do Agronegócio que é o MATOPIBA.
Por Comunicação MPA
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