4 de outubro de 2025
O PCC e a máfia do veneno
Facções criminosas atuam de forma intensa no mercado pirata; casos de contaminação por metanol em bebidas mostram gravidade do problema
Autor: Renato Seraphim – Empresário, engenheiro agrônomo especializado em estratégias de desenvolvimento do agronegócio e membro do Comité Estratégico Soja Brasil. Artigo publicado no caderno de OPINIÃO da Folha de S. Paulo de 2/10/25.
Brasil presenciou recentemente uma das maiores operações contra o crime organizado. Descobriu-se o que já se supunha, as organizações criminosas migraram para o mundo financeiro da Faria Lima, e jogou-se luz em um problema tão grande quanto: estamos vendo o PCC e congêneres cada vez mais presentes na agroindústria, forçando a compra de fazendas e usinas sucroalcooleiras.
O que ainda não se discutiu é que o mesmo modus operandi tem atuado de forma dramática no mercado pirata dos agroquímicos. Segundo dados da CropLife Brasil e do Ministério da Agricultura e Pecuária, a participação do setor criminoso já chega a 25% do total desse mercado.
Esse crime vem causando prejuízos ambientais superiores a R$ 3 bilhões anuais, além de inúmeros problemas de saúde. Mais de 14.500 casos de intoxicações e 439 mortes foram registrados entre 2019 e 2023 — números que devem ser ainda maiores, em decorrência da subnotificação.
A máfia do veneno, provavelmente pilotada por um braço do PCC, atua em três frentes: o contrabando de produtos via fazendas instaladas na fronteira, principalmente no Paraguai; o roubo de cargas; e a produção de insumos piratas e altamente tóxicos, o que inclui o batismo de mercadorias desviadas.
Não é pouca coisa. O Brasil é o maior consumidor mundial de defensivos agrícolas, mais de 300 mil toneladas anuais. Isso na contabilidade oficial, pois outra parte circula por baixo das lonas dos caminhões do “PCC do Agro”. É uma carga perigosíssima, que chegou a ser usada como arma química.
Sim, leitores. Há guerras químicas em curso no Brasil, com o uso de agroquímicos ilegais, para contaminar aldeias indígenas e quilombolas. Dados da Comissão Pastoral da Terra atestam que, somente em 2024, mais de 17 mil famílias brasileiras foram bombardeadas pela máfia do veneno, criminosos interessados em expandir suas fronteiras agrícolas para áreas onde tal não é permitido.
Ao todo, foram 276 ocorrências, em mais de 3,3 milhões de hectares, um aumento de 763% em relação a 2023, quando houve 32 conflitos e 2.498 famílias intoxicadas.
O agronegócio no Brasil é extremamente sério e representa nossa principal vanguarda de inovação.
Entretanto, como em todos os países que enfrentaram organizações criminosas, os setores mais pujantes da economia são faróis que projetam sombras indesejáveis.
No caso do agro, cuja cadeia total responde por 25% do PIB brasileiro, temos uma “sombra” nos rondando, o que é atestado pelo crescimento exponencial das apreensões desses produtos ilegais. Algo equivalente ao que aconteceu nos últimos dias com vários casos de contaminação por uso de metanol em bebidas falsificadas.
Sem combate adequado, o crime cresce. É preciso maior controle para que as cargas piratas, contrabandeadas ou roubadas fiquem no alvo das autoridades. É preciso proteger os agricultores e participantes do agronegócio que atuam com correção.
O caminho passa por investimento em inteligência e tecnologia de combate ao crime. Demanda um pacto nacional, que envolva os setores mais representativos do agro, os governos, Ministério Público e sociedade em geral em prol de uma política mais eficaz de controle sobre os defensivos agrícolas.
Essas soluções, temos a certeza, terão apoio tanto da indústria de químicos quanto de grupos importantes do agro, posto que é preciso preservar a saúde, a segurança e a imagem do setor contra a infiltração do banditismo.
As operações desencadeadas pelas polícias e pelo Ministério Público contra o PCC mostram que não podemos perder mais tempo, sob pena de continuarmos a ter mortes e guerras químicas que ameaçam a reputação do agro e do país.
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |