23 de junho de 2025
Imagem João Gabriel
“É feito por camponeses, moradores de favelas, militantes, artistas e defensores da vida. O Raízes do Brasil segue como farol de esperança, memória e futuro”
Por Gizele Martins (Amareense)
Mais de 400 pessoas participaram da celebração dos oito anos do Raízes do Brasil, realizada em 31 de maio, no bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro. A programação teve início por volta das 9h da manhã, com o tradicional Café Camponês e a animada Feira Camponesa. Às 14h, foi servido o tão aguardado almoço com a famosa feijoada da Tia Doca, que contou com uma versão vegana preparada em parceria com Regina Tchelly. Durante toda a tarde, o evento seguiu com falas públicas de representantes de movimentos sociais, sindicatos, organizações populares e lideranças políticas. A celebração foi encerrada em grande estilo com a apresentação musical do Sarau da Terra, conduzido por Ricardo Moreno, trazendo ainda mais encanto e emoção ao dia.
O Raízes do Brasil, idealizado pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), ao longo destes oito anos, tem sido fundamental na promoção da soberania alimentar, conectando o campo e a cidade por meio da alimentação saudável, da gastronomia popular e da agroecologia. De acordo com Beto Palmeira, da Bahia, que começou a militância no MPA entre 2004 e 2005 e desde 2017 contribui na construção do espaço, diz que “ele surgiu a partir da aliança com cidade, da compreensão dos movimentos urbanos, assim como dos sindicatos, sobretudo da Federação Única dos Petroleiros (FUP). O objetivo era estruturar o trabalho do MPA no Rio Janeiro com geração de renda para as famílias agricultoras e para as pessoas que atuam na organização”.
Victor Tinoco, Superintendente do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) no Rio de Janeiro, afirmou que tem o prazer de se fazer presente nos aniversários do Raízes. Disse também que ali não é só um espaço, mas um lugar de encontros: “É a concretização da unidade entre cidade e campo, de solidariedade e reciprocidade. É uma construção saudável em termos de alimentação. É o lugar do encontro de políticas públicas. Aqui você tem a cesta camponesa, mas também tem a cozinha solidária. Tem construção política e de formação e integração. São múltiplas ações que acontecem aqui. Oito anos ainda é pouco para o muito que já foi feito aqui”, destacou.
Imagem João Gabriel
Além da presença de Tinoco, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a celebração contou com a participação do Deputado Federal Chico Alencar (PSOL); das Deputadas Estaduais Renata Souza (PSOL) e Marina dos Santos (PT), da Vereadora Maíra do MST (PT). Estiveram presentes também Maria Emília Pacheco, ex-presidenta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea); Sílvio Porto, Diretor-Executivo de Política Agrícola e Informações da Conab, que responde interinamente pela Diretoria de Operações e Abastecimento.
A programação foi ainda mais enriquecida com a participação de importantes referências nos movimentos sociais e na luta por direitos: Marinete Silva, do Instituto Marielle Franco e membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB; Claudia Santiago, do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC); Sandra Quintela, do Jubileu Sul; Carmem Diniz, do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba; Silvio Wittlin, do Coletivo Árabes e Judeus pela Paz; Adair Rocha, professor e assessor da Reitoria da UERJ; Flávia Londres, da secretaria executiva da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), dentre outros.
Sobretudo, marcaram presença com força e protagonismo as famílias camponesas e quilombolas que constroem o MPA no estado do Rio de Janeiro, ao lado de lideranças camponesas de outros estados e de moradores das favelas do Morro dos Prazeres, do Cantagalo em Niterói. Essa diversidade reafirma o Raízes do Brasil como um coletivo de resistência, de celebração e construção de um projeto popular de país, onde campo e cidade se unem em torno da soberania alimentar, para o povo.
Quem faz o Raízes do Brasil?
Maria Aparecida de Oliveira, conhecida como Tia Doca, filha de camponeses, veio de Bom Jesus de Itabapoana, noroeste fluminense, de Vila de Cava, e está há oito anos no Raízes do Brasil. Sua família, assim como a de tantos outros moradores daqui teve que se retirar de suas terras por causa da chegada das grandes indústrias. Elas chegaram e vendiam os alimentos mais baratos e as pessoas não compravam mais dos camponeses. Para ela, o Raízes do Brasil é esse contato com a sua memória familiar, é como se fosse um filho e que agora está vendo crescer. “Estou aqui desde o início e lembro que o nosso objetivo era que ele trouxesse memórias afetivas, por isso, temos as raízes, os bolinhos de chuva, como se fosse a casa de nossa avó. A gente sempre quis que as pessoas se sentissem à vontade”, recordou.
Ainda de acordo com ela, o Raízes do Brasil é uma forma de mostrar para os agricultores que o trabalho deles também é prioridade e que não deve desistir. “Eles também são importantes na sociedade, sem eles como teria a feira aqui? O arroz, feijão, hortaliças? O trabalho deles é importante para a sociedade”, completou. Andreza Paiva, de Sergipe, em 2021 veio para o Rio de Janeiro, ela contribui com as feiras, no acompanhamento com os agricultores. Para ela, o Raízes do Brasil foi a porta de diálogo com as comunidades no debate da alimentação. “Aqui é um lugar acolhedor para quem não se vê integrado a um conjunto de fatores externos, mas onde a gente consegue dialogar com segurança e confiança sobre o que a gente acredita. Celebrar os oito anos é celebrar algo que deu certo, foram oito anos construídos por muitas mãos que se somam e fazem acontecer”, afirmou.
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Muriel Zerbetto, de Pirassununga, interior de São Paulo, também de origem camponesa, contou que este não é só um espaço de comercialização de venda de feira e restaurante, é um lugar que se propõe a ser a materialização de uma nova concepção de sociedade. “Todas essas frentes existem no sentido de garantir a auto sustentabilidade do local. Aqui tem café camponês, um café que é contra colonial. Temos a feira que ocorre às quartas e aos sábados. Temos o site para pedidos das cestas e entregamos em todo o Rio de Janeiro”, declarou. Dentre todas estas ações desenvolvidas no Raízes do Brasil, destaca-se, neste ano, a inauguração da Cozinha Solidária, um importante passo na luta contra a fome, voltada ao atendimento de famílias em situação de insegurança alimentar nas favelas do entorno.
Nestes oito anos, o Raízes do Brasil contribuiu para o MPA construir bases territoriais em vários municípios, assim como em Teresópolis, em Magé, e Guapimirim, em Petrópolis, Nova Iguaçu, Caxias, Mangaratiba, Quatis, Paty do Alferes Silva e Jardim. Sendo esta uma relação estabelecida com os agricultores a partir da certeza de que podem produzir porque se tem para onde comercializar. Um destes agricultores é Paulo Guimarães, conhecido como Lito, do município de Japeri, na Baixada Fluminense, “sou produtor de arroz, conheci o Raízes do Brasil por um acaso, inicialmente querendo vender melado e arroz pra eles e deu super certo. É daí que nasceu essa parceria que já tem dois anos. E estar aqui nesta comemoração é muito importante, é um espaço que ajuda muito os agricultores. Além de ser de esquerda e de grande confiança política. Nos próximos quero trazer meus familiares também”, disse.
Para Palmeira, o objetivo é sempre o de construir uma outra economia, camponesa e popular que não está baseada na acumulação privada, e sim acumular para distribuir para as pessoas que trabalham no processo. “Queremos uma construção do consumo como ato político, exemplo disso, é em entender que comprar um café de determinada marca, que tem ligação com empresas vinculadas ao estado de israel faz com que você financie o genocídio palestino. Ou seja, nossa proposta é que as pessoas comprem os nossos produtos, porque assim elas estarão apoiando os pequenos agricultores que lutam contra as grandes empresas, e isso é um ato político”.
Para finalizar, Palmeira declarou que: “A celebração não foi apenas uma festa — foi a reafirmação de um projeto de sociedade enraizado na solidariedade, na agroecologia camponesa, na cultura popular e na luta pela soberania alimentar. O espaço segue vivo e pulsante graças às mãos que plantam, cozinham, distribuem e compartilham. É feito por camponeses, moradores de favelas, militantes, artistas e defensores da vida. O Raízes do Brasil segue como farol de esperança, memória e futuro”.
Imagem João Gabriel
Quer saber mais sobre o Raízes do Brasil?
Endereço:
Rua Áurea, 80, Santa Teresa, RJ.
Acesse:
Raízes do Brasil no Instagram: https://www.instagram.com/raizesdobrasil.rj/
Cesta Camponesa: https://www.cestacamponesa.com.br/
MPA: https://mpabrasil.org.br/
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