4 de outubro de 2016
No marco do Seminário Internacional realizado recentemente em São Paulo, Brasil, o Resumo Latinoamericano entrevistou o economista e dirigente político haitiano Camille Chalmers, Secretário da Plataforma Haitiano pela Defesa de um Desenvolvimento Alternativo (PHADA) e integrante do Jubileu das Nações Unidas em seu país e reivindica a necessidade urgente da autodeterminação para seu povo.
Leia a entrevista:
Qual é a sua opinião sobre a atual situação política no Haiti, como parte de uma nova data para as eleições
Camille Chalmers: O povo haitiano está sofrendo uma violenta agressão do Imperialismo, e isso não acontece apenas estruturalmente desde a intervenção 1915 que transformou o sistema político para submete-lo a dominação permanente do Departamento de Estado. Porém, mais recentemente estamos vendo uma ilustração do que chamamos de “Capitalismo o desastre”. Após o terremoto as tropas nacionais aproveitaram a situação para tomar o controle estratégico de espaços económicos. Pretendem fazer com a mineração, e querem introduzir sistemas de exportações agrícolas e zonas francas. Tudo isso para transformar o sistema econômico do Haiti, e usar a presença das tropas da ONU, MINUSTAH; eles usaram do pretexto de resolver a crise política no país. Eles são uma força supostamente de manutenção de paz, porém estão na ordem dos interesses da estratégia global de os EUA, não só no processo de militarização da Bacia do Caribe, mas também para estrangular, para matar qualquer tentativa de reconstrução popular. Eles atacam qualquer progresso económico para as camadas majoritárias. O povo do Haiti está lutando contra a ocupação militar e contra o Imperialismo norte-americano. Está lutando contra a Oligarquia haitiana que, desde 1986, quando se instalou este poderoso movimento popular decidiram matar completamente o processo de libertação do país para instalar o Neoliberalismo que tem destruído grande parte da produção camponesa e as capacidades económicas do país. Por isso, é uma luta vital, fundamental e nós queremos conecta-la com todo o processo da Revolução Haitiana de 1804 rompeu com a lógica fundamental do sistema da época que utiliza da escravidão como um meio de produção e acumulação. Acredito que o movimento camponês haitiano, os movimentos de jovens, de mulheres, de vizinhança, estão reivindicando essa herança revolucionária para constituir-se em alternativa revolucionária frente a essa dominação do Capital e do Império.
O povo haitiano acredita realmente acredita nas eleições que foram chamados pelo atual governo?
Camille Chalmers: Não. Temos conhecido nos últimos anos um processo de desacreditar no processo eleitoral. Cada vez foi mais manipulada, operado, controlado pelos Estados Unidos, e todos nós sabemos que o resultado das eleições de 2010 não refletem a vontade do povo haitiano, e em 2015 tentou um golpe contra o povo haitiano de forma muito grosseira. Esse golpe em 2015 recebeu uma resposta popular muito forte e as mobilizações exigiram exigiu refazer essas eleições que se realizará no dia 09 de outubro. Portanto, estamos em um processo no qual há uma forte sentimento anti-interferência, uma forte oposição do povo contra essa condução violenta a dignidade do povo haitiano, porém aos mesmo tempo o povo sabe que o processo eleitoral não resolver os problemas estruturais. De fato, nas duas últimas ocasiões, 2010 e 2015, houve uma participação muito baixa de 15-18% do eleitorado, o que significa que o povo haitiano saiba que luta deve desencadear processos que não são apenas o conteúdo anti-neoliberal, mas também que a transformação do Estado não aceita essa Democracia importada que tentam manter-nos como solução para a crise haitiana. Sabemos que a crise é muito mais profunda do que isso e requer instrumentos políticos no estejam a altura do projeto de libertação que precisamos agora.
Vários meses atrás, houve um processo semi insurrecional do povo, mesmo com ações direta e violentas contra setores que são vistos como opressores. Que é o que falta, na sua compreensão, para que essa resistência se converta em ofensiva popular organizada, o que está faltando no povo e na esquerda haitiana para unificar-se para derrubar não só o governo, mas para ganhar o poder para os que trabalham?
Camille Chalmers: Uma coisa a destacar é que a violência reacionária das forças da MINUSTAH, é uma violência permanente contra o povo. Por exemplo, a introdução de cólera já matou mais de 10.000 haitianos e afetou cerca de 800.000, é uma tremenda violência e exigimos reparação, justiça e compensação. Os movimentos sociais e políticos que surgiram a partir 1984-1985 para enfrentar a ditadura de Duvalier, começaram a construir não só um movimento social combativos, mas também uma instancia que tinha por objetivo a transformação Estado. Esse movimento popular recebeu uma resposta do imperialismo extremamente violento e da oligarquia que levou a intervenções militares 23.000 soldados estrangeiros, golpes de Estado 1991 e 2004 e também o processo de corrupção e cooptação do líder popular por meio de vários projetos. Assim que frente a essa violência, o desfio actual é a reconstrução desse movimento popular que hora está muito dividido, incluindo certa capacitação por grupos políticos como as de Aristide. Assim que é um processo de reconstrução, de liberação, de autonomia de um movimento que é basicamente anti-imperialista. Estamos em uma situação muito favorável, porque nós trabalhamos para transformar o forte sentimento de herança na consciência anti-imperialista, e um dos instrumentos que estamos utilizando para isso é o Tribunal Popular contra os 100 anos de ocupação, que começou em 28 de julho e que irá durar por um ano.
Qual é o papel da solidariedade internacional na luta pela libertação do Haiti?
Camille Chalmers: Devo dizer que quando surgiu a nação do Haiti surgiram, os primeiros líderes tiveram uma clara consciência de que o futuro estava na possibilidade de construir uma aliança forte internacionalista para lutar contra a escravidão; o que disse Bolívar quando deixou o Haiti para reforçar a luta contra a Espanha. Mas a resposta imperial foi isolar totalmente o Haiti e o resultado disso é que as lutas do povo haitiano são desconhecidas, assim como, a Revolução Haitiana e seu legado. Portanto, para nós reconstruir os laços de solidariedade é uma prioridade.
Por Carlos Zanárez – Resumo Latinoamericano
Tradução: Comunicação MPA
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