5 de janeiro de 2024
Mateus Quevedo
MPA Brasil | Brasília (DF)
‘Mulheres Camponesas: abastecendo de alimentos e esperanças o povo brasileiro’ é o título do livro sistematizado pelas mulheres camponesa do Movimento dos Pequenos e das Pequenas Agricultoras, o MPA Brasil, lançado no fim do ano passado, como resultado de um amplo processo de articulação, formação e jornadas de lutas.
Camponesas e dirigentes integrantes do Movimento e organizadas no Coletivo de Gênero do MPA, espaço de privilégio da participação das mulheres, no esforço de avançar com as reflexões e ações sobre o Feminismo Camponês e Popular organizaram a elaboração de um relatório com o resultado do estudo sobre a produção e potencialidades das mulheres do MPA em diversos estados.
Ao todo, foram levantadas informações sobre 95 comunidades de 56 municípios dos estados do da Bahia, Espírito Santo, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia, Rio Grande do Sul e Sergipe, entre agosto e setembro de 2021 e sistematizados, analisados e descritos até meados de 2022.
“Nosso objetivo foi de fazer um levantamento de informações que possibilitasse a construção do Plano de Produção e Comercialização e Abastecimento Popular Agroecológico para Mulheres Camponesas, contamos com o apoio da Agência de Cooperação do País Basco e do Conselho Foral da Bizkaia, e a Bizilure e com o Grupo de Pesquisa GeografAR, da UFBA (Universidade Federal da Bahia)”, apresenta Jeiéli Laís dos Reis, membro da coordenação do Coletivo de Gênero.
Segundo Jeiéli, a elaboração proposta para o Plano de Produção “é parte do papel protagonista das mulheres nas diversas dimensões da vida, a sabedoria do cuidado e do conhecimento sobre a natureza e dos seus frutos, a luta pela reprodução da família. Tomamos como princípio o ideário da soberania alimentar, da agroecologia, da garantia da produção e do consumo de alimentos saudáveis para todos, da ação fortalecida no coletivo”.
Como citado por Reis, o levantamento das informações apresentadas no livro foi realizado de forma conjunta com o Grupo de Pesquisa GeografAR, do Departamento de Geografia da Universidade Federal da Bahia. A organização do livro é das integrantes do GeografAR, as pesquisadoras Francielly da Fonseca Costa e Gilca Garcia de Oliveira.
Foram questões investigadas durante o processo, a caracterização das comunidades; dimensões da realidade social e organizativa; os níveis de segurança alimentar, nutricional, hídrica e energética; os regimes da propriedade e uso do territórios; os sistemas de produção; a divisão do trabalho; as formas de beneficiamento de alimentos; as estratégias adotadas de comercialização; as formas de extrativismo e de produção de artesanato; a rendas das mulheres; e elementos como solidariedade e religiosidade.
“Além disso foram feitas reuniões com as mulheres dos estados para orientação sobre o preenchimento dos formulários, claro que reuniões com as lideranças do MPA em cada estado para construir essa metodologia, como ainda estávamos na pandemia, essas reuniões foram feitas de forma virtual”, destaca Isabel Ramalho, também membro da coordenação do Coletivo de Gênero.
Segundo Ramalho, depois desse processo de investigação, foram realizadas revisões e padronização das respostas conforme seu sentido e regionalidade, e em seguida houve a elaboração de estatísticas descritivas e gráficos para integrarem o relatório da pesquisa.
“Com certeza, um dos desafios deste processo todo foi a precariedade da internet nos territórios camponeses e, com certeza, diante dos desafios, contamos com o apoio e solidariedade das companheiras para que a gente conseguisse que todas participassem, mesmo aquelas que não tinham tanta habilidade com os recursos digitais”, aponta Ramalho.
“O levantamento possibilitou a compreensão e identificação de diversas questões, como por exemplo, as dificuldades produtivas, de acesso à terra, à água e aos meios de comercialização, e da própria aplicação da agroecologia e de plantas medicinais nas comunidades, são muitos os resultados que aparecem no livro”, apresenta Leila Santana, integrante do coletivo de Gênero e também do GeografAR.
Uma das ênfases que o Coletivo de Gênero dá aos resultados do livro é a diversidade de fontes das quais as mulheres tiram sua renda. “Isso revela o tanto de riqueza de seus conhecimentos para também o excesso de trabalho e esgotamento físico das companheiras”, aponta Dos Reis.
Segundo o levantamento, a principal fonte de renda é referente à produção de alimentos (vegetal e animal), representando 33,9% das respostas. A aposentadoria, que sempre se apresenta como uma importante fonte de renda, consta com 19,8%, assim como o Programa Bolsa Família, com 12,9%.
Também aparecem trabalhos como diarista, empregos no setor público e em mercados, produção de artesanato, e com menor frequência o trabalho como educadora, autônoma, com serviços de beleza, de seguro especial, produzindo vassouras, de bolsa de estudos e das vendas em feiras.
As principais atividades com renda exclusiva das mulheres são artesanato, venda de ovos, hortaliças e galinhas, produtos da panificação e doces. A maioria delas, 88,4%, respondeu que participa das decisões financeiras da família. Mesmo assim, a renda que é exclusiva das mulheres segue sendo destinada para os cuidados com os familiares e com o lar (alimentação familiar, casa, filhos e investimento na propriedade), somando 72,7% das respostas, sendo o principal deles a alimentação. Os outros destinos da renda exclusiva das mulheres citadas foram: saúde e beleza da mulher, lazer, estudos, animais domésticos e livros.
Diversos lançamentos estão programados para ocorrer nos estados onde houve o levantamento. No Espírito Santo, durante seu Encontro Estadual de 2023 ocorrido em dezembro, as mulheres organizaram uma Noite Cultural para o lançamento.
Durante o primeiro trimestre deste ano, mais lançamentos devem ser organizados. Culminando a jornada de lutas das mulheres em torno do 8 de março, Dia Internacional da Mulher. “Esperamos que estes dados sirvam para a construção de políticas públicas que fortaleçam a presença das mulheres no campo, porque sabemos que elas são as protagonistas da construção da Soberania Alimentar dos territórios e do Brasil”, finaliza Jeiéli.
A versão impressa dos livros pode ser adquirida junto aos Coletivos Estaduais de Gênero. Em breve a versão digital deve ficar disponível.
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