30 de março de 2023
Cida Oliveira
Rádio Brasil Atual | São Paulo
A saúde das famílias brasileiras está ainda mais em risco com a liberação do plantio do trigo transgênico no Brasil e da importação da farinha desse trigo. O alerta é do engenheiro agrônomo e integrante do Movimento Ciência Cidadã Leonardo Melgarejo. “Os riscos de contaminação vão atingir todas as famílias. E ainda mais aquelas que consomem muitos alimentos à base desse trigo”, disse hoje (29) em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.
Em 1º de março, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) causou surpresa ao aprovar o plantio do trigo geneticamente modificado HB4. A decisão foi tomada com base em um processo anterior, de 2021, aberto para liberar a importação da farinha de trigo transgênica produzida na Argentina. A maioria da comissão ainda é composta por pessoas indicadas por ministérios do governo de Jair Bolsonaro (PL).
A semente foi desenvolvida pela empresa de biotecnologia argentina Bioceres, sob o argumento de proporcionar uma planta resistente à seca. Ao aprovar, a comissão considerou apenas as justificativas apresentadas pela empresa e não fez as análises técnicas necessárias. Além disso, ignorou os apelos de especialistas integrantes de organizações, redes e movimentos sociais, que pediram justamente mais pesquisas e debates.
De acordo com Leonardo Melgarejo, o trigo transgênico é resistente ao herbicida glufosinato de amônio. Causador de alterações na planta, esse agrotóxico foi proibido na União Europeia por ser tóxico às células, podendo causar alguns tipos de câncer. E também pode afetar o sistema nervoso central e reprodutivo. Por isso a liberação é alarmante, já que o trigo entra na composição dos alimentos mais consumidos.
Sem contar os riscos à biodiversidade, já que o agrotóxico contamina os rios e afeta diretamente a vida aquática. E indiretamente, organismos envolvidos via cadeia alimentar. E nada disso foi avaliado em testes pela empresa Bioceres.
Para ele, há muitos outros motivos que colocam a aprovação na contramão. “A Embrapa e empresas transnacionais desistiram de desenvolver plantas resistentes à seca. É muito grande a dificuldade de manipular um único gene para obter essa finalidade. Estudos mostram resultados controversos na Argentina. Em Córdoba, essas sementes trouxeram ganhos de 5% em relação ao trigo comum. Mas em Buenos Aires houve prejuízo de 27%. Isso significa que em caso de estresse hídrico essa resistência não funciona. A variabilidade dos fatores naturais incontroláveis é muito grande”, disse Melgarejo, que foi integrante da CTNBio no período de 2008 a 2014.
Na avaliação do agrônomo, o trigo transgênico não vai resolver o problema. “Nós desconfiamos que não seja tolerante à seca. Na verdade, vai aumentar a venda no Brasil desse herbicida que perdeu mercado na comunidade europeia”.
Isso porque, segundo ele, os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com invernos bem marcados, não podem plantar as lavouras de verão (milho, soja e algodão), que utilizam muito o agrotóxico. “Com a entrada do trigo transgênico no Brasil, fechamos a janela de descanso da natureza”.
No último dia 20, entidades protocolaram ofício conjunto ao presidente do Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, pedindo o cancelamento da liberação. A decisão deverá ser tomada até o próximo dia 5. O mesmo ofício foi encaminhado a outros 10 ministérios que compõem o CNBS, além do Ministério Público Federal (MPF) e o Fórum Nacional de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos.
Para as organizações, a CTNBio liberou o trigo transgênico apesar das pesquisas insuficientes e da falta de debate. E a única audiência sobre o tema trouxe informações consideradas inconsistentes. Isso viola a Lei de Biossegurança nº 11.105/2005 e o Protocolo de Cartagena, um dos instrumentos da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB).
Ao contrário da Argentina, o Brasil é signatário do tratado internacional. Assim, o país vizinho deveria se adequar às exigências da legislação brasileira, que são mais rígidas – o que não aconteceu. Para fortalecer esses argumentos, as organizações reivindicam audiência com ministérios que compõem o Conselho Nacional de Biossegurança.
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |