3 de agosto de 2022
Janelson Ferreira
MST | Brasília (DF)
Na manhã desta terça-feira (2), ocorreu o lançamento da Campanha Contra Violência no Campo – em defesa dos povos do campo, das águas e das florestas. Diversas organizações, movimentos populares e entidades estiveram presentes no evento. A campanha surge a partir do cenário de crescimento dos casos de violência contra os povos tradicionais, principalmente, após a posse de Jair Bolsonaro na presidência da República.
Durante o lançamento, foram apresentados relatos de casos de violência contra os povos indígenas pela Aty Guasu (Grande Assembleia do povo Guarani e Kaiowá), do Mato Grosso do Sul, e contra o Território Campestre, comunidade Alegria, no município de Timbiras (MA). Também foram apresentados dados atualizados sobre a violência no campo, sistematizados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), além da divulgação de uma Carta Compromisso contra a Violência no Campo, para que os candidatos e candidatas nas eleições de 2022 possam aderir.
Entre 2011 e 2015 foram registrados pelo Centro de Documentação da CPT – Dom Tomás Balduíno – , 6.737 conflitos no campo, envolvendo mais de 3,5 milhões de pessoas. Já de 2016 a 2021, esses números subiram para 10.384 conflitos, atingindo 5,5 milhões de pessoas, em especial, crianças, jovens e mulheres.
Alessandra Farias, da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e da Coordenação da Campanha, explica que a campanha é convocada, justamente, frente ao contexto de acirramento da violência no campo. “Entre outros objetivos, buscamos sensibilizar toda a sociedade sobre os casos de violência no campo, além de dar visibilidade aos casos concretos”, explica.
De acordo com Farias, a campanha tem o objetivo também de articular redes de apoio e proteção às populações que são vítimas de violência. “Com a campanha queremos contribuir para a resistência no campo, tornando público práticas e experiências dos povos, que servem como contraponto ao agronegócio”, finaliza.
Darci Frigo, do Conselho Nacional de Direitos Humanos, assinalou que o ambiente vivido atualmente no Brasil é adverso para a defesa dos direitos humanos. “O CNDH deve estar, justamente, a serviço da causa dos direitos humanos e daqueles que mais precisam”.
O Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) é um órgão colegiado de composição paritária que tem por finalidade a promoção e a defesa dos direitos humanos no Brasil através de ações preventivas, protetivas, reparadoras e sancionadoras das condutas e situações de ameaça ou violação desses direitos, previstos na Constituição Federal e em tratados e atos internacionais ratificados pelo Brasil. Fazem parte do órgão 11 representantes da sociedade civil e 11 do poder público.
Para Simão Kaiowá, do Conselho Aty Guasu, a ação de bancadas conservadoras no Congresso Nacional, como é o caso das bancadas ruralista, evangélica e armamentista, contribuem para o crescimento destas violências. “Em Brasília, eles começam a violar nossos direitos na caneta, mas lá nas nossas bases, esta violação se dá na bala”, afirma o indígena, referindo-se aos ataques de fazendeiros às retomadas Kaiowás no Mato Grosso do Sul. “Não é só o povo Kaiowá que sofre estas violências, mas todos os indígenas no Brasil”, explica.
Ontem (1), mais um ataque aos Kaiowá foi realizado em Amambai, Mato Grosso do Sul. Um indígena foi emboscado por homens em duas motocicletas ao retornar da cidade para sua comunidade. Segundo informações o ataque foi realizado por causa da retomada que iniciada pelos parentes há alguns dias. A suspeita é que são as mesmas pessoas que assinaram o Márcio Moreira há alguns dias atrás. A vítima foi atingida por um disparo de arma de fogo, feito por dois homens que estavam em uma moto na mesma cidade.
Localizada no sul do MS, Amambai vem sendo palco de uma série de ataques aos indígenas Kaiowás. Em junho, após realizarem uma retomada de um de seus territórios, indígenas foram atacados por policiais militares. Durante a ação, Vitor Fernandes foi assassinado.
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