18 de janeiro de 2022
Pedro Neves Dias
Brasil de Fato | Porto Alegre (RS)
A falta de água está causando estragos em todas as regiões do estado. Não só os cultivos agrícolas destinados à comercialização estão registrando expressivas perdas, mas também a própria subsistência de muitas famílias está em risco.
Segundo a Emater/RS, esta é a pior seca do estado nos últimos 17 anos. Mais de cinco mil famílias de agricultores estão sem acesso à água até para uso nas casas.
De acordo com o “Informe de Evento Adverso N°1” publicado pela entidade com levantamento do efeito da estiagem no estado, a falta de chuvas já compromete a contribuição do setor primário na economia gaúcha.
“Há o fato de que já são mais de oito mil localidades e mais de 207 mil propriedades atingidas pelos efeitos da estiagem no estado, além de cerca de 10,5 mil famílias com dificuldades ao acesso à água”, informa o relatório.
Além disso, afirma que a estiagem provoca perdas nas mais diversas atividades agropecuárias. Até o momento, foram atingidos os cultivos de cerca de 115 mil produtores de grãos (soja, milho e feijão) e aproximadamente 23,5 mil produtores de leite.
Ainda conforme Douglas Cenci, presidente da Federação dos Agricultores Familiares/RS (Fetraf/RS), há a estimativa de que mais de 200 mil famílias de pequenos agricultores estejam sofrendo com a seca, especialmente nas regiões Centro e Norte do estado.
É nesse contexto que ocorreu a visita da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Tereza Cristina, ao Sul do país. Nesta quarta e quinta-feira (12 e 13), a ministra esteve visitando o RS, SC e PR para averiguar a situação da estiagem. Segundo fonte consultada pela reportagem, a visita não trouxe propostas concretas para amenizar o problema.
Segundo Plinio Simas, representante do Movimento dos Pequenos Agricultores do RS (MPA/RS), a vinda da ministra à região só trouxe promessas, mas nada de políticas públicas. Plínio afirma sentir que há uma desconfiança por parte do governo federal com relação ao estado dos agricultores, o que julga não ser correto visto que a seca já é reconhecida, inclusive com centenas de municípios que já declararam estado de emergência.
“Nós do MPA estamos apreensivos com esse descompromisso com todos os trabalhadores, mas em especial com os agricultores. Estão sem políticas públicas pra ajudar, ainda mais agora com essa estiagem muito grave”, afirma.
Segundo o pequeno agricultor, as famílias do campo, no momento, precisam das políticas para ter um mínimo amparo, seja através de crédito emergencial, para se alimentar ou para produzir alimentos, ou mesmo com relação às dívidas. “É isso que a agricultura espera”, afirma.
Sobre a situação da agricultura familiar, relata um estado preocupante: está faltando água para as pessoas beberem. Porém, além disso, relata que as culturas que as famílias plantam para se alimentar estão também muito ameaçadas, de forma que o problema de passarem fome pode ser iminente.
“O que mais nos preocupa é a questão da alimentação. Mandioca, batata e feijão: a própria subsistência dos agricultores que está muito ameaçada. Mais do que isso, ao que tudo indica a estiagem irá continuar por longo período”, relata.
Tanto entre seus pares, como na avaliação do MPA, há a consideração de que as ações dos governos estadual e federal, até agora, são insuficientes. Relata que já faz mais de um mês que essa situação está ruim, algo que é reconhecido pelos próprios órgãos de governo, e até o momento não percebem nenhuma política eficaz de socorro à essa população.
Dessa forma, esperam que a visita da ministra possa ser uma sinalização de que o governo vai encarar a situação de uma forma séria daqui pra frente, apesar de lamentar o grande “descompromisso” com a agricultura familiar e com o desenvolvimento rural da região.
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