21 de dezembro de 2021
Nara Kikuchi
Rio de Janeiro | MPA Brasil
Comer é um ato político. E mesmo que você dependa da solidariedade para se alimentar, como ocorreu com milhões de famílias brasileiras durante a pandemia de Covid-19, pode e deve debater sobre de onde vem o alimento de verdade, porque a comida está tão cara no país que é o “celeiro do mundo” e/ou entender a diferença entre soberania alimentar e segurança alimentar.
Desde o início da crise sanitária, em março de 2020, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) realiza o Mutirão Contra a Fome e já distribuiu 4 mil toneladas de alimentos para quase 70 mil famílias em situação de vulnerabilidade social e alimentar, com mais de 250 mil cestas básicas entregues em 14 estados.
Integrante da coordenação nacional do MPA, Beto Palmeira explica que o movimento debate o problema da fome há muito tempo. “A gente está muito nessa perspectiva de que um povo que não produz a sua própria alimentação é um povo que vai ter sérias dificuldades de garantir os demais direitos”.
De acordo com ele, a questão da fome deve ser trabalhada junto com a da soberania alimentar, que é caracterizada pelo direito que os povos têm de definir suas próprias políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos saudáveis, nutritivos e saborosos.
“Para isso é preciso políticas de Estado, para poder investir na produção de alimentos e na distribuição. Nós apostamos muito que o alimento é um elo entre o campo e a cidade. Desde 2013 a gente vem denunciando que o Brasil iria voltar para o Mapa da Fome e com o golpe de 2016 isso se acelerou, se consolidou essa leitura nossa e nós vimos com uma linha de nos articularmos com setores das periferias, das favelas, dos movimentos sociais urbanos, para debater a pauta da fome”, explica Beto.
Beto lembra que a pandemia tornou a questão da fome premente e o MPA viu a oportunidade de, além de fazer uma ação ampla de solidariedade entre campo e cidade, debater a política alimentar do país.
“Para além das pessoas receberem os alimentos, queremos pensar um processo de diálogo, de construção, de articulação política, etc. Então o mutirão surgiu com esses dois objetivos: de levar comida para quem tem fome, mas também debater politicamente com as famílias que estão recebendo, sobre o processo de produção, sobre de onde vem os alimentos, como é o processo de organização no campo e contribuir de alguma forma com o processo de organização na cidade”.
A insegurança alimentar, indicador utilizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), mede a quantidade de calorias que a pessoa ingere por dia e estima o percentual da população de cada país que vive em situação de subnutrição. Não leva em conta o consumo de alimentos ultra processados e nutricionalmente pobres.
Pela última atualização do Mapa da Fome, lançada em 2020 com dados de 2017 a 2019, o Brasil tem 2,5% da população nessa situação, o que não caracteriza o país como tendo a fome como um problema estrutural. O Brasil alcançou esse status em 2014.
Porém, o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), mostrou que, nos últimos meses de 2020, 55,2% dos lares brasileiros, ou 116,8 milhões de pessoas, conviveram com algum grau de insegurança alimentar, sendo que 9% deles vivenciaram insegurança alimentar grave, ou seja, 19 milhões de brasileiros passaram fome.
O número encontrado de brasileiros que passaram fome na pandemia é o dobro do que foi registrado em 2009, chegando ao nível observado em 2004. A pesquisa foi feita no período em que o auxílio emergencial concedido a 68 milhões de pessoas foi reduzido de R$ 600 para R$ 300 mensais. Com a extinção do Bolsa Família e o lançamento do novo Auxílio Brasil, 24.848.851 famílias foram excluídas de qualquer auxílio.
Beto destaca que neste ano a campanha que o MPA faz todos os anos para fomentar a distribuição de alimentos saudáveis chamada ‘Natal Sem Veneno’ em sua 6ª edição, se somará ao Mutirão Contra a Fome e outras campanhas de solidariedade. ‘A campanha é uma demonstração que a solidariedade entre os trabalhadores é a melhor forma de acertar a crise, pra enfrentar a fome, e essa solidariedade deve impulsionar a aliança campo e cidade para fortalecer a luta pelo direito a alimentação e a construção da soberania alimentar’, completou.
Chamada de ‘Natal Sem Fome e Sem Veneno’ a campanha iniciou segunda-feira, 20 e se estenderá até o dia 25, dia de Natal. “Estamos organizando em diversos estados do Brasil a doação de mais de 500 toneladas de alimentos, é uma força tarefa com o Mutirão que já levou mais de 4 mil toneladas de alimentos saudáveis, da roça do camponês para a mesa das famílias nas periferias”, finaliza Beto.
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