1 de julho de 2022
Mateus Quevedo
MPA Brasil | São Paulo (SP)
As intensas chuvas que afetaram diretamente mais de 250 mil pessoas nos estados de Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, além do forte impacto da seca no sul do país, mostram que eventos de grande impacto causados pelas mudanças climáticas já estão em curso no Brasil. O assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, o assassinato do indigena Guarani Kaiowá Vítor Fernandes, e os ataques à áreas de retomada, tanto no Mato Grosso do Sul quanto extremo sul da Bahia nas últimas semanas escancaram a disputa entre as formas de relação humana com a natureza no nosso país.
O agronegócio tem lucrado em cima da destruição dos biomas, da expulsão dos povos do campo, das águas e das florestas e do aumento da fome em nosso país. Foi essa a denúncia feita durante a plenária organizada pelo coletivo de juventude da Via Campesina Brasil na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema, São Paulo, durante os dias 25 e 28 de junho.
Os principais temas debatidos foram os desafios da juventude camponesa na atual conjuntura brasileira e internacional, o balanço político das ações da articulação nos últimos três anos e as projeções para os próximos. Durante a análise da conjuntura internacional, Rodrigo Suñe, da Assembleia Internacional dos Povos, afirmou que estamos “atravessando uma crise civilizatória e que versa contra o direito humano e dos povos, dado a incapacidade do capitalismo dar respostas e saídas para a vida no planeta”.
Quais as saídas para a emergência climática que estamos atravessando? Qual o papel da juventude da classe trabalhadora diante deste dilema? Como transformar a luta ecológica em uma luta de massas? Foram essas algumas perguntas que nortearam os debates travados pelos jovens presentes no encontro. “Estamos assistindo uma primarização da economia aqui no Brasil e em outros países da América Latina e isso é um dos fatores que tem efeito nocivo sobre a natureza, por isso, há uma necessidade de integração da região, dos povos criarem a suas pautas e elas serem aplicadas”, apresentou a jovem Rayara Pires, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, o MAM, em sua análise.
Um dos momentos da plenária foi o debate sobre o papel da juventude na luta ambiental. Os facilitadores foram o engenheiro agrônomo Marcelo Leal do Movimento dos Pequenos Agricultores, o MPA, e Camilo Ramalho, jovem à frente do plano nacional ‘Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis’ do MST. Leal, que discorreu sobre a história do movimento ecológico, lembrou que a economia é um subsistema da ecologia e que precisamos afirmar uma economia da biodiversidade. “A agroecologia está no programa dos movimentos camponeses, é aí que damos um caráter estratégico para o tema da ecologia”, apresentou.
Leal ainda classificou o movimento ecologista em três grandes correntes: o primeiro, foi o que chamou de ‘Evangelho da Ecoeficiência’, em que a tecnologia ou soluções tecnológicas encontraram saídas para possíveis catástrofes ambientais; a segunda é dos que acreditam que a saída está somente com áreas de conservação, uma vez que o ser humano é destrutivo; já o terceiro, que apresenta uma crítica mais profunda ao modelo de produção capitalista, chama Ecologia Popular, que é onde estão o campesinato e o proletariado. “A saída política, econômica e social passa a ser reconhecer o campesinato e o proletariado como a base material e espiritual das mudanças estruturais que necessitamos”, completou.
Para o jovem Camilo também é um equívoco negar a relação entre a ecologia e a luta de classes, entre a relação entre as mudanças climáticas e o modelo de produção de alimentos. “Não adianta debater o meio ambiente sem debater o social, é necessário colocar o povo dentro, como parte da solução”.
Ele lembrou a famosa frase dita por Margaret Tatcher logo após a queda do muro de Berlim, sobre o carbono ser o novo inimigo número um. “Eles criam os problemas e depois vendem a solução, adaptar as forças produtivas para ter baixa produção de carbono é uma falsa solução, tornam o oxigênio que sai das árvores em mais uma mercadoria”, denunciou.
Durante a atividade, os jovens também debateram uma plataforma da juventude das águas, do campo e das florestas. Em 2020, devido aos impactos que a juventude camponesa sofreu durante a pandemia causada pelo novo coronavírus, a articulação de jovens da Via Campesina Brasil, junto com outras organizações do Campo Unitário, a exemplo da Contag, elencaram medidas emergenciais para mitigar estes impactos. Essas medidas emergenciais tornaram-se o ponta pé inicial para a elaboração da plataforma.
Entre as medidas da plataforma estão uma bolsa permanência, para que juventude tenha incentivo ao estudo, crédito subsidiado para criação de sistemas agroflorestais, banco de sementes, agroindústrias, além de da possibilidade de ter maior acesso à pontos culturais nas comunidades camponesas, ribeirinhas, territórios indígenas e quilombolas. A possibilidade de acesso à CNH Social também aparece na plataforma, além do direito à internet no interior.
“É imprescindível criarmos políticas que possibilitem trabalho, renda e condições de permanecer e viver bem no campo, com dignidade e vida saudável, com condições para produzir alimentos, acesso à saúde, educação e cultura, mas também condições de inclusão digital e internet, possibilitando à geração de renda e melhoria na qualidade de vida”, diz trecho do documento que foi apresentando por Paulo Romário, da Pastoral da Juventude Rural, e Monita Buffon, da Contag.
Além da formalização da Plataforma, os jovens também firmaram o compromisso de culminar os esforços de organização da juventude dos movimentos populares em torno do tema da ecologia em um grande acampamento a ser organizado para os próximos anos. “Queremos acesso à terra, luta pela educação do campo, defesa dos territórios e pela agroecologia”, finaliza Paulo Romário.
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