27 de janeiro de 2024
Marcos Corbari
MPA Brasil
A repercussão do 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia segue pulsante. O evento, realizado pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) realizado entre 20 e 23 de novembro no Rio de Janeiro, deixou muitos legados materiais e imateriais. O Movimento dos Pequenos Agricultores e Pequenas Agricultores (MPA) está fazendo um resgate de memória da participação de seus militantes nas diversas instâncias do evento e trará a cada semana um registro sobre as experiências, relatos, intervenções e contribuições deixadas nos diversos espaços onde nossa bandeira teve protagonismo.
Iniciando essa série de publicações, colocamos em destaque a participação da jovem militante Luiza Pigozzi, com vinculação ao MPA em SC e no RS, atualmente mestranda na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. O trabalho apresentado é um relato de experiência técnica no eixo temático “Juventudes e Agroecologia”, abordando a experiência prática da juventude no Estágio Interdisciplinar de Vivência (EIV) no estado de SC. O texto é assinado conjuntamente com Celina Ferreira Goes (do Levante Popular da Juventude – LPJ) e Rodrigo Timm Seferin (do Movimento dos Atingidos e atingidas por Barragens – MAB), tendo como orientadora a professora Carla de Mello Gaia (da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC).
– O EIV é uma experiência que reúne anualmente jovens trabalhadores e estudantes universitários para formação política e vivência prática da realidade de famílias organizadas nos movimentos sociais da Via Campesina atuantes no estado -, explica Pigozzi, citando além do MPA e do MAB, também o MST e o MMC como integrantes da atividade que tem entre seus objetivos fortalecer as articulações campo e cidade e permitir o intercâmbio de saberes. O Estágio possui seu método político-pedagógico, que norteia as ações com a intencionalidade da formação humana, e é dividido entre as etapas de formação política, vivência e socialização. Em Santa Catarina está vinculado formalmente à UFSC na forma de projeto de extensão.
“A Agroecologia é uma das pautas históricas da Via Campesina e se faz presente no Estágio através dos níveis de formação teórica e vivência prática, assim como nas relações e coletivização dos processos”, acrescenta. Para Pigozzi e demais coautores do relato, “um dos principais resultados do EIV é oportunizar aos jovens uma reconexão às suas origens camponesas e passar a refletir a partir do conhecimento acadêmico como pode ser sujeito ativo na construção dos direitos tão elementares para o público rural, do qual ele/a (ou sua família) faz parte.
Durante a apresentação, Pigozzi explicou que as temáticas discutidas durante o Estágio são pertinentes à juventude e aos territórios dos movimentos sociais da Via Campesina, se aprofundando em formações que tratam dos aspectos estruturais da sociedade brasileira e latinoamericana, com abordagens políticas, econômicas, sociais e culturais. As quais, por exemplo, relacionam as questões agrária e energética aos temas do feminismo camponês popular, questão étnico-racial nas comunidades rurais quilombolas e combate aos preconceitos contra os sujeitos LGBTQIA+, sempre pautando os debates na perspectiva da Educação Popular desde a ótica camponesa.
“É importante mencionar que um dos princípios do EIV é não separar o trabalho intelectual e o manual, programando a vivência prática aliada à conceituação teórica, se diferenciando da forma convencional acadêmica que costuma dar prioridade (e muitas vezes exclusividade) ao conhecimento simplesmente teórico”, aponta a jovem militante e pesquisadora. Para ela e demais colegas está claro que na experiência assume-se a perspectiva do trabalho como princípio educativo. “Desta forma a turma, além de participar das formações e do estudo sobre as temáticas, também é imergida no tempo-trabalho, se inserindo em atividades coletivas de organização do espaço, preparo de alimentos e limpeza, e durante as vivências essas atividades são realizadas se inserindo ao contexto diário das famílias dos movimentos que recebem os jovens nos territórios, convidando-as a vivenciar a Agroecologia na prática com atividades que muitas vezes são incomuns para o público urbano como tirar leite, capinar a horta, cortar o pasto, tratar os animais, manejar sementes, cortar fumo, arrancar mandioca, entre outras”, aponta.
O estágio relatado no CBA ocorreu entre os dias 13/01 e 02/02/23, tendo a participação de 21 estagiários e Coordenação Político Pedagógica (CPP) formada por 9 integrantes. As etapas de formação política e socialização da edição 2023 ocorreram no Centro de Formação Olga Benário, localizado no Assentamento 25 de Julho (em Catanduvas/SC). “Cabe destacar que a perspectiva conceitual da etapa formativa não é apresentar a gama de teorias políticas que permeiam os temas tratados, mas oportunizar que os jovens da comunidade universitária tenham acesso às formulações teóricas, praxiológicas e conceituais desenvolvidas no bojo das lutas e das reivindicações construídas no contexto de luta territorial dos movimentos sociais da Via Campesina”, explica.
Na etapa seguinte os estagiários e estagiárias foram a campo, vivenciar a realidade de famílias que residem nos territórios dos movimentos sociais da Via Campesina, em um período de 10 dias inseridos no cotidiano das famílias, buscando participar da rotina diária nos municípios catarinenses de Barra Bonita, Brunópolis, Catanduvas, Chapecó, Curitibanos, Itapiranga, Quilombo, Palma Sola, Palmitos, Passos Maia, São Carlos, São José do Cedro e Xanxerê, bem como no município gaúcho de Seberi. “São territórios que historicamente estão envolvidos nas lutas sociais e possuem assentamentos da reforma agrária, reassentamentos e unidades produtivas camponesas”, aponta Pigozzi.
A experiência, conforme o relato, mostrou-se exitosa na proposta de possibilitar o reencontro dos jovens participantes com a sua identidade camponesa e ribeirinha, fazendo com que boa parte deles se tornem sujeitos ativos da transformação social que forçou-os a deixar seus territórios de origem para ir estudar e trabalhar na cidade. “Alguns estagiários passaram a contribuir organicamente nas ações dos movimentos da Via Campesina e hoje estão inseridos em espaços políticos importantes, fortalecendo as articulações das lutas do campo e da cidade, assim como seguindo o ciclo e se inserindo nas construções para um próximo Estágio”, conclui a relatora, afirmando ainda que “esses jovens estudantes vêm fortalecendo o debate da Agroecologia e da reforma agrária popular no contexto da cidade, da universidade e demais espaços onde atuam, e propiciando que os conhecimentos aprendidos no EIV e na vivência dos territórios dos movimentos alcancem mais pessoas”.
Falando ao coletivo de comunicação do MPA, Pigozzi destacou a importância da oportunidade de expor a experiência em uma instância de repercussão nacional e reconhecimento acadêmico-científico como o Congresso Brasileiro de Agroecologia, que deixa profundos legados materiais e imateriais, fortalecendo as ações de luta e a representatividade dos movimentos de matriz camponesa e demais aliados em diferentes instâncias.
A íntegra do relato pode ser acessada nos Cadernos de Agroecologia que compõem os Anais do XII Congresso Brasileiro de Agroecologia, ou ainda no repositório teórico do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), chamado “Paiol Camponês”, no site www.mpabrasil.com.br .
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