25 de maio de 2016
Para quem acreditou que o objetivo do impeachment era livrar o país da corrupção é hora de ter vergonha.Muitos foram os erros e escolhas ruins dos governos do PT nos últimos 13 anos. Ao longo desse tempo, esses erros foram apontados pelos movimentos populares. Nas ruas, denunciaram, dentre outros, o fortalecimento do agronegócio; a divisão injusta da publicidade estatal; o extermínio da juventude negra e as medidas econômicas que enriqueceram o pequeno grupo de empresários mais ricos do Brasil.
Contudo, é necessário também reconhecer os avanços que a política neodesenvolvimentista, colocada em prática por Lula e Dilma, trouxe para o país. É inegável que milhões de brasileiras/os saíram da linha da pobreza com a valorização do salário mínimo e tiveram acesso a saúde e atendimento de qualidade com o “Mais Médicos”. Que jovens pobres e negros puderam frequentar o ensino superior em universidades federais e que mulheres e população LGBT conquistaram direitos, mesmo que insuficientes. E até no combate à corrupção o governo Dilma foi pioneiro, ao criar mecanismos que possibilitaram avançar em investigações de crimes contra o patrimônio público, desvios de verbas e enriquecimento ilícito.
As listas de erros e acertos talvez tenham quase o mesmo tamanho. No entanto, com o afastamento da presidenta legitimamente eleita, ficou bem nítido que o que deu certo incomodou setores de empresários e políticos, que vivem e enriquecem com base na exploração de trabalhadores/as e, possivelmente, na corrupção.
E essa questão tem ficado cada vez mais clara com os últimos acontecimentos, como a atuação medíocre dos deputados federais que votaram a favor do impeachment e a cobertura sensacionalista e ridícula da mídia golpista, que sempre pressupôs que o povo brasileiro é burro e incapaz de discernir.
Ligações perigosas
Um exemplo recente de como os acertos de Dilma feriram a índole de poderosos é o áudio vazado de uma conversa, realizada em março deste ano, entre Romero Jucá (PMDB), ex-ministro do Planejamento do governo golpista de Temer, e Sérgio Machado, ex-diretor da Transpetro, empresa subsidiária da Petrobras.
Jucá é um dos alvos da Lava Jato. Na conversa, ele sugere a Machado que uma “mudança” no Governo Federal resultaria em um “pacto” para “estancar a sangria”. Ora, para bom entendedor, o golpe à presidenta seria uma forma de barrar a operação e se livrar das garras da Polícia Federal.
“A situação é grave. Porque […] eles querem pegar todos os políticos. […] se não houver uma solução em curto prazo, o nosso risco é grande”, disse Machado. Jucá, em acordo que essa solução seria o impeachment, declarou em bom tom que “enquanto ela [Dilma], estiver ali [na presidência], essa po* não vai parar nunca”, se referindo às investigações.
Esses e outros trechos da conversa só afirmam o caráter golpista e manipulador por trás do governo interino de Michel Temer, uma vez que não há crime de responsabilidade e nenhuma investigação contra Dilma. Há, portanto, grupos (PMDB e aliados, Rede Globo e Judiciário) – articulados em prol de benefícios próprios – interessados em afastar qualquer sombra de um governo que assume ser a favor do julgamento e punição de corruptos.
Para quem acreditou que o objetivo do impeachment era livrar o país da corrupção é hora de ter vergonha. A corrupção é algo sistêmico e, para cortá-la pela raiz, somente uma reforma política profunda, o que exige continuar lutando nas ruas. Defender o governo Dilma neste momento não é ser conivente com seus erros, mas garantir a manutenção dos acertos e o respeito à frágil democracia brasileira.
Editorial do Brasil de Fato
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