26 de abril de 2022
Mateus Quevedo
MPA Brasil | Salvador (BA)
Em 1992, no II Congresso da Unión Nacional de Agricultores e Ganaderos (UNAG), da Nicarágua, várias lideranças camponesas da América e da Europa que estavam participando iniciaram a criação de uma articulação mundial de camponeses. Nesse 26 de abril de 1994 nascia a La Via Campesina. Desde lá muito foi conquistado como o reconhecimento e a adoção da Soberania Alimentar por alguns países, o reconhecimento e o apoio e a agroecologia por parte da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e a Declaração dos Direitos dos Camponeses e Camponesas adotada pela Assembleia Geral da ONU.
“Nestes 30 anos de jornada da Via Campesina acumulamos no interior da nossa articulação internacional vários processos de conquistas afirmações e construções coletivas onde possibilitamos ao campesinato mundial se colocar como alternativa para o sistema de alimentação do mundo” apresenta Anderson Amaro, da direção nacional do MPA e da coordenação d’La Via Campesina na América do Sul. Anderson afirma que as bandeiras de luta levantadas pela LVC foram e são fundamentais para toda humanidade “como a soberania alimentar, as sementes como patrimônio dos povos e, principalmente, o acesso à terra como a única forma de garantir a produção efetiva de alimentos saudáveis para toda a população”.
Um dos momentos mais marcantes de luta da LVC aconteceu em 2003 no âmbito dos protestos camponeses contra a Reunião Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Cancun, México. onde diversos companheiros e companheiras se movimentavam em nível internacional para exigir a expulsão da OMC de qualquer discussão e decisão sobre a agricultura. O marco foi o sacrifício de Lee Kyung Hae, camponês sul-coreanos, que se explodiu para protestar, principalmente, contra as investidas da OMC na expansão global do capital no setor agrícola. Ocorrido em 10 de setembro daquele ano, esta data ficou marcada como Dia Mundial de Luta contra a OMC.
Não há dúvida que o surgimento d’La Via Campesina e o forte envolvimento dos movimentos camponeses brasileiros que a constroem serviu e serve para desvelar a resistência e a solidariedade de milhares de camponeses e camponesas que têm sua história abafada, exatamente para privilegiar as grandes corporações que hoje dominam o sistema agroalimentar. No Brasil, por exemplo, a história da resistência camponesa foi símbolo de mudanças significativas e mesmo depois da Ditadura Militar, que esfacelou o campesinato brasileiro, há forte memória de lutas mais localizadas e que resultaram na eclosão de greves, ocupações e lutas por demandas de pequenos agricultores.
Para Leonilde Sérvolo de Medeiros, professora da UFRRJ e uma das principais pesquisadoras das lutas camponesas no Brasil, não há dúvidas de que há um abafamento histórico da memória das lutas camponesas e indígenas, como uma forma de inviabilizar sua resistência. “Trata-se de construir uma versão da história em que os camponeses aparecem como ignorantes, atrasados e facilmente manipuláveis por interesses externos a eles. No entanto, os esforços de pesquisa e de busca de documentação sobre esses episódios mostram uma extraordinária capacidade de resistência e busca de alternativas que foram violentamente reprimidas, em especial pelo poder local, pelos fazendeiros, por meio de capangas”.
Leonilde apresenta que além da experiência das Ligas Camponesas no Pernambuco e na Paraíba, outras resistências importantes também aconteceram em Goiás, Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e no Rio de Janeiro. “Esses são apenas alguns exemplos da dimensão que a luta por terra tomou no país nos anos 50/60. Não por acaso a bandeira da reforma agrária tornou-se palavra importante, assim como direitos trabalhistas e direito de sindicalização”. Deste período, um dos momentos pais importantes foi a realização do Congresso Camponês, realizado em Belo Horizonte, onde participaram as associações que se proliferaram pelo país, como o Movimento dos Agricultores sem Terra (Master) e as Ligas Camponesas do Nordeste.
Mesmo depois de uma articulação mundial das dimensões da LVC ainda são enormes os desafios de camponeses e camponesas frente a dinâmica do sistema agroalimentar vigente. “É necessário mudar urgentemente o sistema que agride o meio ambiente, destrói a natureza, que o agronegócio tem adotado para produção, não alimentos, mas de commodities e a LVC tem sido um farol, tem sido a voz, não só dos trabalhadores do campo, mas também de todos os trabalhadores da cidade, e do mundo, nesta construção de uma agricultura sustentável, limpa e de bom-vivencia com o meio ambiente”, acrescenta Amaro.
As comemorações dos 30 anos iniciaram este mês e se estenderão até a Conferência em novembro do ano que vem. Ao longo deste período diversas atividades, em formato virtual e presencial, já foram organizadas para marcar o Abril Vermelho. No dia 17 de abril, dia Internacional de Lutas Camponesas, data que marca a memória do massacre contra 19 camponeses sem-terra em El Dourado dos Carajás, no Pará, a LVC lançou uma declaração política contra a criminalização, a opressão e a repressão das lutas pela vida. Um ato político, transmitido em formato virtual, marcou este 26 de abril com presença de diversas organizações em nível mundial.
“Somente com o campesinato se colocando na trincheira de lutas é que conseguiremos mudar a forma com que a sociedade mundial tem feito as suas relações com o alimento, as suas relações com as pessoas e a LVC tem sido este instrumento importante de construção e afirmação destes processos”, finaliza Amaro.
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