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Grupo de Reflexão Círculo Bolivariano Ruy Mauro MariniAUTOR(A)
Grupo de Reflexão Círculo Bolivariano Ruy Mauro Marini5 de julho de 2022
Esse camarada nasceu em 1932, na cidade de Barbacena, MG, mas é o aniversário de sua partida que nos leva a essas reflexões. Marini nos deixou há 25 anos e sua obra o torna presente na luta de classes até os dias atuais. Trata-se de um intelectual militante muito conhecido na América Latina e sua obra circula pelas universidades latinas desde a década de 1960.
Marini formou-se em Administração de Empresas e completou sua formação na França em 1958. Ao retornar para o Brasil atuou na criação da POLOP – Política Operária e na criação da UNB em 1962. Com a ditadura militar instalada no Brasil, Marini foi preso e antes do AI5, conseguiu sair e precisou exilar-se, primeiramente no Chile e posteriormente no México. Exilado, lecionou na Universidade do Chile e a partir de 1974 na Universidade Nacional Autônoma (UNAM).
Por onde passou, Marini contribuiu para a luta de classes e juntamente com outros teóricos marxistas de seu tempo, desafiou o marxismo eurocêntrico, buscando interpretar a realidade latino-americana para transformá-la, contribuindo com uma teoria revolucionária que nos possibilita compreender os engendramentos e particularidades do capitalismo dependente. Queremos com essas breves reflexões trazer um pouco da essência de sua obra. Marini, analisou e interpretou a América Latina com o olhar profundo de quem conhece a realidade que fala. Foi um pesquisador, professor e militante que soube analisar as situações peculiares da América Latina e sua inserção no capitalismo mundial, fazendo um aprofundamento de muitas categorias que não dialogavam de forma qualificada com a realidade Latino-americana. O capitalismo latino americano seria um capitalismo sui generis, analisado somente a partir de uma avaliação nacional e internacional, simultaneamente.
Desde o período colonial, a América Latina desenvolveu-se a partir de uma relação de sustentação das economias capitalistas centrais. Seu lugar foi e é sempre voltado para alimentar as estruturas e bases de desenvolvimento dos países do centro. Mesmo após a independência formal, mantém uma relação de subordinação, o que confere uma ameaça a esta conformação, qualquer possibilidade, mesmo que tímida, de um desenvolvimento continental.
Assentimos com Marini (2000, p. 109) que a exploração das colônias auxiliou e é base para o desenvolvimento industrial dos colonizadores, mas que “a situação colonial não é igual à situação de dependência”. Para o autor, a Revolução Industrial possibilitou aos países da América Latina uma independência política no sentido de permitir que os países pudessem negociar diretamente com a Inglaterra. Até aquele momento, as colônias utilizavam como base as suas estruturas demográficas e administrativas que existiam até então, e passaram a ignorar a articulação possível entre os países da América Latina e a negociar diretamente com a metrópole inglesa.
A partir daí, as relações da América Latina com os centros capitalistas europeus passaram a ser estruturadas na divisão internacional do trabalho e isso determina o sentido do desenvolvimento posterior da região. Logo, temos a dependência entendida como uma relação de subordinação entre nações formalmente independentes, cujas relações de produção das nações subordinadas são modificadas ou recriadas para assegurar a reprodução ampliada da dependência (MARINI, 2000, p. 109).
Dentre as suas contribuições, destacamos a categoria da superexploração da força de trabalho, essência da dinâmica dependente e subordinada com que os países da América Latina se inserem na divisão internacional do trabalho. Essa categoria, caracterizada pelo aumento da intensidade do trabalho, pelo prolongamento da jornada de trabalho e pela apropriação feita, pelo capitalista, do fundo de consumo e de vida do trabalhador, traduz a realidade cotidiana da população latino-americana marcada pela espoliação advinda da compensação interna de perdas internacionais da burguesia nacional. Assim, mais do que uma teoria elaborada na década de 1960, trata-se de uma teoria atual, contribuindo não só para explicar, mas para transformar a realidade concreta.
Chimini (2021) considera que a Teoria Marxista da Dependência faz frente e contraponto à subordinação e a dependência e incorpora aspectos que apontam para um caminho de superação das relações capitalistas e para a construção do fim do capitalismo. Nas palavras de Luce (2018, p. 13) essa superação é problematizada “como tarefa profundamente imbricada com a luta pelo socialismo, talvez por esse motivo, por propor a superação do sistema hegemônico vigente, a TMD tenha sido depreciada por tantos anos, utilizando as palavras do autor, “perseguida pelo terror do Estado, combatida pelo dogmatismo teórico e também marginalizada pelo neoliberalismo acadêmico” (LUCE, 2018, p. 11).
Mas ninguém fala melhor sobre Ruy Mauro Marini do que sua própria obra e as relacionamos abaixo. Após sua partida, outros tantos livros foram lançados e destacamos Ruy Mauro Marini: Vida e Obra, da Expressão Popular. Há muitos outros artigos, teses e dissertações que utilizam o veio teórico da TMD para desvelar os engendramentos do capitalismo sobre as nossas terras e gentes. Seguimos aprendendo e lutando com Ruy Mauro Marini, sempre Presente, Presente, Presente!
Grupo de Reflexão Círculo Bolivariano Ruy Mauro Marini
Dra. Letícia Chimini – Assistente Social, Militante do MPA, Docente UFSM.
Dra. Patrícia Reis – Assistente Social, Coordenadora Geral AMURT/AMURTEL.
Dra. Vanelise de Paula Aloraldo – Assistente Social, Docente UFSM.
Ma. Laís Duarte Corrêa – Assistente Social, Docente UCS, Doutoranda do PPG em Serviço Social da PUCRS.
Me. Paulo Roberto Martins – Assistente Social UFSM, Doutorando do PPG em Serviço Social da PUCRS.
Referências bibliográficas utilizadas:
CHIMINI, Letícia. Produção e reprodução do capital nas economias dependentes e as implicações na questão agrária: o acirramento das desigualdades e os processos de resistência do campesinato brasileiro. 232 p. Tese (Doutorado em Serviço Social) – PUCRS, Porto Alegre, 2021.
LUCE, Mathias Seibel. Teoria Marxista da Dependência: problemas e categorias, uma visão histórica. São Paulo: Expressão Popular, 2018.
MARINI, Ruy Mauro. Dialética da Dependência. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
TRASPADINI, Roberta. STEDILE, João Pedro (orgs). Ruy Mauro Marini, Vida e Obra. 1. ed, São Paulo: Expressão Popular, 2005.
Documentário Ruy Mauro Marini: Vida e Obra: https://www.youtube.com/watch?v=ww4_HoYUYA
Obras do autor (http://www.archivochile.com/):
1972 – Subdesarrollo y revolución, México D.F., Siglo XXI, 1969, 1974(5ª edición ampliada); Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1975; París, François Maspero.
1976 – El reformismo y la contrarrevolución: estudios sobre Chile, México D.F., Ediciones Era, 1976.
1981 – Dialéctica de la dependencia, México D.F., Ediciones Era, 1973; Frankfurt, Suhrkamp Verlag, 1974; Lisboa, Centelha, 1975; Holanda, Nijegen, 1976; Buenos Aires, Ulmeiro, 1981.
1983 – Análisis de los mecanismos de protección al salario en la esfera de la producción, México D.F., Secretaría del Trabajo y Previsión Social-Unidad Coordinadora de Políticas, Estudios y Estadísticas del Trabajo.
1993 – América Latina: dependência e integração, São Paulo, Brasil Urgente, 1992; Caracas, Nueva Sociedad.
1994 – La teoría social latinoamericana, t. I: Los orígenes, Ruy Mauro Marini y Márgara Millán (coords.), México D.F., El Caballito.
1994 – La teoría social latinoamericana, t. II: Subdesarrollo y dependencia, Ruy Mauro Marini y Márgara Millán (coords.), México D.F., El Caballito.
1994 – Teoría social latinoamericana (textos escogidos), t. I: De los orígenes a la cepal; t. II: La teoría de la dependencia; t. II: La centralidad del marxismo, Ruy Mauro Marini y Márgara Millán (coords.), México D.F., El Caballito.
1995 – La teoría social latinoamericana, t. II: La centralidad del marxismo, Ruy Mauro Marini y Márgara Millán (coords.), México D.F., UNAM/El Caballito.
1996 – La teoría social latinoamericana, t. IV: Cuestiones contemporáneas, Ruy Mauro Marini y Márgara Millán (coords.), México D.F., UNAM/FCPYS/CELA.
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