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Comunicação MPA12 de julho de 2018
O retorno frenético do neoliberalismo no Brasil tem causado cenas curiosas, mas com possíveis interpretações, ainda que inconclusas. O caso da juventude é emblemático. Ao mesmo tempo que em sua grande maioria renega o Estado, vociferando barbaridades contra o funcionalismo público e considerando benéfico o livre mercado, ironicamente também deposita suas esperanças de ascensão social no serviço público, lotando os cursinhos preparatórios para concursos públicos e dedicando suas horas de descanso à preparação de um futuro individual mais promissor. Quando ingressam no setor privado, muitas vezes os trabalhadores jovens buscam incansavelmente galgar posições chave, na esperança de chegar aos postos de chefia.
É enorme a contradição da juventude em relação ao mundo do trabalho. A juventude constitui o núcleo do trabalho precarizado, sofre com uma legislação trabalhista flexível forjada por uma geração de políticos que não possui compromissos com a classe trabalhadora e por interesses econômicos do capitalismo financeiro e industrial. Sujeitos a baixos salários, longos períodos de desemprego, trabalho remoto e temporário, entre outras aberrações da “modernização das relações de trabalho”.
Os jovens querem estabilidade financeira e plano de carreira promissores, mas geralmente renegam o passado de luta das gerações anteriores que buscou fortalecer os direitos sociais e trabalhistas e a manutenção de empregos regulares. Evidentemente, tal postura fortalece e legitima as ações tomadas pelo capital e negligencia o potencial da classe trabalhadora. O ethos de solidariedade de classe já não existe da mesma forma como existia na geração passada. A juventude em sua grande maioria não parece estar disposta a ações coletivas, tampouco ao enfrentamento dentro da esfera produtiva. Hostiliza os sindicatos, que com todas suas limitações – justiça seja feita – têm lutado para a manutenção dos direitos conquistados pela classe trabalhadora.
No Brasil essa é a primeira geração à qual foi imposta a legislação que precariza as relações de trabalho de modo sistêmico e certamente transmitirá normas, atitudes e comportamentos para a geração vindoura. A que se deve tamanha contradição? A resposta ainda não foi encontrada.
Há pelo menos três possibilidades. Pode ser que os jovens realmente não cheguem a considerar que haja contradição, pois não percebem a importância do Estado em suas vidas e considerem ingenuamente que conquistaram tudo com seu esforço individual, ou seja, não notam que a sua vida depende das políticas de Estado. Pode ser que percebam a contradição e saibam que o Estado é importante, mas não vejam qualquer alternativa melhor ao que existe. Ou ainda pode ser que saibam de tudo isso mas não estejam dispostos a sacrificar seu tempo e sua juventude numa luta incerta e prefiram buscar saídas individuais.
Seja como for, os problemas não desaparecerão num passe de mágica. A juventude trabalhadora precisará construir algum tipo de voz coletiva que conteste a banalização e a alienação violenta do conflito capital x trabalho que seja capaz de fazer parte de um prenúncio de amanhã melhor para todos os brasileiros. A resposta ainda está por vir.
Por Maister F. da Silva é militante MPA e Lauro Duvoisin é militante do Levante Popular da Juventude
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