AUTOR(A)
Rosana OliveiraAUTOR(A)
Rosana Oliveira22 de julho de 2021
Rosana Oliveira*
Publicado originalmente em El Comején
No dia 3 de julho, os brasileiros voltaram a protestar contra o Bolsonaro em várias cidades do Brasil e do exterior. Além das pautas já defendidas, como a necessidade de aumentar o socorro emergencial, as políticas sociais contra a fome e a urgência de vacinas para todos, foram acrescentados os relatos de corrupção envolvendo o Ministério da Saúde. O que parecia ser nada mais do que uma negação da ciência escondeu um esquema de bilhões de dólares para receber propinas na compra de vacinas de corretores ou empresas corruptas. Os principais partidos envolvidos neste esquema são a ala podre dos militares, os deputados do ‘centrão’ e o presidente Bolsonaro. Para a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) houve um tratamento suspeito no processo de compra de vacinas pelo governo. Quando se tratava de institutos e laboratórios sérios como o Instituto Butantã e a PFIZER, o governo não negociou e nem respondeu a cerca de 100 e-mails enviados pelo laboratório. Em relação à vacina indiana Covaxin, representada pela empresa Precisa, o ministério buscou agilizar e pressionar o lançamento do contrato para a compra de 20 milhões de vacinas Covaxin, sem licença da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e negociou com um valor maior do que as outras. É interessante que essa mesma empresa seja acusada de supervalorizar a venda de medicamentos e insumos ao setor público, uma das investigações refere-se à operação de Falso Negativo, devido ao superfaturamento dos testes Covid vendidos ao governo do Distrito Federal.
Além da denúncia, um ex-militar chamado Dominghetti disse à CPI que havia recebido um pedido de pagamento de propina em uma negociação paralela para compra de vacinas da AstraZeneca, por meio da empresa Davati Medical Supply. A negociação de Dominghetti com representantes do Ministério da Saúde envolveu uma proposta de venda de 400 milhões de doses da vacina que em troca grupos do ministério receberiam US $ 1 por dose. Bolsonaro e seu grupo buscaram reproduzir no Ministério da Saúde o esquema das rachadinhas realizado na Câmara dos Deputados do Rio de Janeiro. Enquanto esse esquema sombrio se desenrolava, milhares de brasileiros foram assassinados sem acesso a vacina e sem política social, com a promessa de cura com um medicamento (hidroxicloroquina) que se mostrou ineficaz.
Não é frívolo, portanto, afirmar que houve um genocídio deliberado do presidente da república e seu desgoverno ou, como diria Thompson, um exterminismo. Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional Brasil e representante do Movimento Alerta, e o epidemiologista e pesquisador da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Pedro Hallal, em uma das sessões do CPI relataram que, com base nos levantamentos realizados , é possível dizer que, se o governo tivesse seguido as políticas adotadas por outros países, como a compra antecipada de vacinas e o isolamento social, cerca de 300 mil brasileiros teriam sido salvos.
Em outras palavras, quatro em cada cinco mortes causadas pela Covid-19 no Brasil poderiam ter sido evitadas. É sempre necessário lembrar que estamos diante de um genocídio que não afetou a todos igualmente. Existe uma falsa ideia de que o vírus é democrático, mas no Brasil, um país de extrema desigualdade, o número expressivo de mortes é de negros e de homens periféricos. Outra pesquisa, desta vez do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que mulheres, negros e pobres são os mais afetados pela doença. Também é alarmante, segundo Pedro, que os grupos indígenas tenham sido profundamente afetados, o que é, portanto, mais um crime contra os povos originários de nosso território por parte do Estado que deve protegê-los constitucionalmente.
É inegável que a CPI é hoje o principal espaço de discussão política acessível aos brasileiros. É possível acompanhar diariamente os depoimentos de testemunhas, investigados, parlamentares que contribuem espontaneamente ou não sobre fatos e omissões do Governo brasileiro diante da tragédia que ainda vivemos. Os escândalos revelados potencializam a organização de protestos no Brasil, têm repercussão e tornam os crimes governamentais ainda mais públicos. No dia 3, por meio de cartazes, imagens e gritos, denunciamos o sacrifício de milhares de brasileiros em troca de um dólar e a necessidade urgente do impeachment de Bolsonaro.
Acreditamos que os protestos estão se tornando cada vez mais plurais, tanto dos sujeitos participantes, mulheres, negros, LGBTqia +, quanto dos partidos de centro, direita e esquerda liberais. Há, portanto, neste momento, união e interesse de quem se considera, antes de qualquer sigla, humano. Ainda é desanimador observar uma tentativa de defesa de um governo indefensável, a base dirigente se esforça na CPI, provavelmente são pagos para isso e eleitores cegos repetem o velho mantra da ‘conspiração do PT comunista’, mas como o velho refrão, contra os fatos não há argumentos e nem mesmo o presidente veio a público para negar todas essas acusações. Em meio aos protestos não há maior sentimento de indignação e revolta do que encontrar tantas viúvas, mães, filhos e filhas, vítimas do Covid. Os números frios ganham corpo, ganham rosto e a tristeza dessas famílias, que também é a nossa, vira luta coletiva.
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |