AUTOR(A)
Edivagno de Matos RiosAUTOR(A)
Edivagno de Matos Rios23 de fevereiro de 2020
Carnaval, palavra originária do latim, carnes levale, que tem como significado, tirar a carne, está ligado diretamente ao catolicismo, pois, antecede a quaresma e o termo tirar a carne, está associado ao jejum quaresmal que antecede a pascoa, celebrado principalmente pelo cristianismo.
A festa carnavalesca foi trazida da Europa para o Brasil pelos portugueses no período Colonial, inicialmente como uma brincadeira e festejo realizado pelas camadas populares, manifestado pelo entrudo, brincadeira em que as pessoas se divertiam jogando água aromatizante ou suja com mal odor, umas nas outras. Essa manifestação popular, realizada no período do carnaval, passou a ser reprimida pela elite brasileira principalmente pós a república e foi literalmente desaparecida no século XX, durante esse século, mudanças foram ocorrendo sucessivamente nas apresentações e formas de realizar o carnaval.
Embora não é originado no Brasil, o país se destaca por realizar a maior festa popular do planeta. O Carnaval brasileiro é uma tradição cultural que reuni em sua maioria a população urbana das grandes metrópoles e recebe milhares de turista durante os festejos, só em salvador estima-se em quase 800 mil turistas no carnaval deste ano. É uma festa que tem sua origem democrática onde as camadas mais “pobres participam”, mas, as mudanças que ocorreram durante o século anterior, até os dias atuais, revelam grandes contradições e expressa a desigualdade social existente entre as classes. No carnaval de salvador e Recife, por exemplo, é montado os camarotes, onde só a elite pode ter acesso, pois um trabalhador não terá condições de pagar alto custo por este espaço, a criação dos blocos com vendas de camisas deixa de fora quem não tem o dinheiro para comprar.
Com as construções dos sambódromos, a exemplo do Rio de Janeiro e São Paulo, acaba aumentando a exclusão das camadas mais pobres que não tem condições de assistir aos desfiles. Percebe –se que ao longo dos anos a grande festa popular foi apropriada pela indústria cultural, tornando um espetáculo onde ocorre as grandes disputas entre as músicas assim como as escolas de sambas em que são televisionadas, atendendo os interesses dos meios de comunicação de massa que se beneficia com a transmissão ao vivo e a venda das imagens, ou seja, tudo se transformou em meios de obter lucro. Outra questão lamentável, são as práticas de muitos artistas que vende seu produto (músicas) com letras ofensivas, que reforçam os estereótipos, reproduz o machismo e a violência contra a mulher, muitas delas, para o senso comum, influenciada pela mídia, tornam a melhor música do carnaval. Um fato lastimável entre tanta violência, são os registros da abusiva repressão policial contra os jovens, principalmente negros que vão se divertir no carnaval.
Embora tenha ocorrido mudanças nas festas carnavalescas ao longo de mais de um século, com sua apropriação pela indústria cultural e a mercantilização, é uma tradição onde a classe trabalhadora, desfavorecida e socialmente excluída, buscam meios de participar, que seja nos espaços de grande foco ou criando seus blocos de rua, tornando assim um verdadeiro ato de resistência. Apesar de não serem divulgados pela mídia, as populações empobrecidas, embora de forma espontânea, com suas diversas fantasias, celebram, festejam ao mesmo tempo que expressa sua indignação, faz crítica, denúncias, protestos, contra a discriminação racial, preconceitos e os governantes e ao sistema capitalista, conforme ao contexto atual em determinado tempo histórico.
Além das formas espontâneas de manifestações e protesto, que já são de práxis no carnaval, experiências importantes de forma mais organizada e canalizada para uma estratégia de agitação e propaganda com o protagonismo da juventude, vem ocorrendo, principalmente nos últimos anos, com a criação de blocos de resistência, pelas organizações urbanas, movimentos do campo a exemplo do MST e mandatos de deputados de esquerda, em que expressa as denúncias do que vem ocorrendo no país, os grandes retrocessos como a questão da fome, desemprego, questões ambientais e no aspecto político as denúncias contra o golpe, a corrupção e a onda neofacista.
Diante desse contexto, torna-se um grande desafio para a classe trabalhadora, excluídas e da periferia, grupos organizados, garantir seu espaço de participação de destaque e que seja divulgado para toda a sociedade, e que possa se tornar cada vez mais, além do momento de festejar e se alegrar sem nenhum tipo de estorvo, também de realizar de forma qualificada as manifestações de protestos contra toda forma de opressão e a extrema desigualdade social. A maior festa do planeta está vulnerável e carente da dimensão cultural popular libertadora, que o povo brasileiro merece!
Por fim, não podemos cruzar os braços e se contentar com tanta injustiça que está acontecendo no Brasil, saber aproveitar o momento da grande festa, combinando o carnaval com a luta política, organizando blocos e utilizar da agitação e propaganda como instrumento de luta para fazer as denúncias, protestos e críticas, das mazelas que está acontecendo atualmente no país é a grande tarefa da esquerda, dos movimentos sociais e de todos/as os cidadãos e cidadãs brasileiro. Portanto fica a provocação e o chamado para que todos/as que irão participar do carnaval, que possam se divertir bastante ao tempo que com seu figurino contextualizado, possa cumprir o seu papel enquanto sujeito político, bradar pela erradicação da fome e desemprego; pelo fim do extermínio da juventude; contra o preconceito e homofobia; e dizer não ao desmatamento da Amazônia, fora os políticos fascistas e corruptos e conclamar por uma política econômica que possa incluir toda a população brasileira e por justiça social.
Edivagno de Matos Rios
Capim Grosso/BA, 19 de fevereiro de 2020
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