AUTOR(A)
Ana Reis e Daniela BentoAUTOR(A)
Ana Reis e Daniela Bento21 de fevereiro de 2020
Apresentamos o cordel composto por Ana Reis e Daniela Bento, em Fevereiro – 2018, propondo em 38 estrofes de 6 versos reflexões pertinentes às contradições do período de Carnaval.
Despi-me da fantasia
De viver em liberdade
Inocência não combina
Pois já passei da idade
Vivo numa escuridão
Forjada de igualdade. DB
Já não visto a folia
Ando nua, esfarrapada
Mas que vale ilusão
Fingir riso enganada?
Se as cinzas dessa vida
Deixam alma desbotada. DB
Eu não visto fantasia
Abomino o carnaval
Esta festa ilusória
Plena de coisa banal
Que serve para empanar
A miséria nacional. AR
O povo vai para as ruas
Demostrar felicidade
Que no fundo não existe
É pura imoralidade
Quando termina a festa
Caem na realidade. AR
Imoral é a tristeza
Ir além do carnaval
Roupa curta, topless
Não importa o enxoval
Shortinho ou minissaia
Tudo tem meu aval. DB
O que não me alegra
Pode a outro alegrar
Abomino esse meu peito
Que vive a me sangrar
Essas mazelas do mundo
Em minha alma a singrar. D.B
É poluição sonora
Em tudo que é lugar
Umas letras sem noção
Não dá para suportar
Antes era diferente
Dava gosto de escutar. A.R
Uma crise do diacho!
Todo mundo a reclamar
Quando chega o Carnaval
Ficam querendo empanar
Com uma festa ilusória
Que não dá pra concordar. A.R
A música que ensurdece
É a alienação
Que entra pelo ouvido
E cega o coração
A novinha que se canta
É a criança sem pão. D.B
Não me importa o bumbum
E se até vai ao chão
A criança que canta
Pede apenas atenção
De uma sociedade
Que perdeu toda noção. DB
Carnaval é festa rica
Tem tradição popular
Ainda tem resistência
Entrou em todo lugar
O Paraíso TuiutÍ
Com enredo singular. D.B
Vai dizer é minoria
E eu posso concordar
Mas a festa eu não culpo
E nem posso condenar
A tradição que ela traz
Quando resgata o cantar. D.B
Não condeno o Carnaval
Condeno a alienação
Daqueles que não se movem
Com as mazelas da Nação
E gastam rios de dinheiro
Para pura diversão. A.R
É gravidez indesejada
Bebedeira em todo canto
Drogas por todo lugar
Outros derramando pranto
Por ver seus entes queridos
Em clima de desencanto. A.R
Já foi muito diferente
A curtição do Carnaval
O clima era de alegria
O povo em alto astral
Mas hoje está diferente
Virou uma coisa banal. A.R
É algo questionável
O conceito de banal
O tempo é pai da história
O que chama de imoral
Beber, cheirar e amar
No privado acha normal. D.B
Esse tempo do passado
Que julga ter mais moral
Foi o da escravidão
Inclusive sexual
Cantar Sassaricando
Achando que é normal. D.B
Se esse povo acordar
Se reunir pela rua
Escancarando a verdade
De maneira nua e crua
Talvez as coisas melhorem
E o progresso talvez flua. A.R
A ordem ficou de lado
O progresso escapuliu
Só vemos desigualdade
Pelos cantos do Brasil
Pra que pular Carnaval,
Se meu país regrediu? A.R
A história confirma
Que desde a caravela
Nada aqui progrediu
Libertação de novela
Onde só prevaleceu
Ao povo a querela. D.B
A ordem e o progresso
Nunca de farsa passou
A ordem é o chicote
Que sempre escravizou
O progresso só quem goza
É quem o povo explorou. D.B
E quem o povo explorou
E até hoje explora
Parece não ter remédio
A ignorância vigora
Pois quando chega nas urnas
O explorado colabora. A.R
E assim o Brasil segue
Neste mar de ilusão
Dando brecha pra fluir
A tal da corrupção
Que a cada dia piora
Parece não ter solução. A.R
É por isso que não gosto
De ver falsa alegria
De tanta gente nas ruas
Em carros de alegoria
Quando até hoje se almeja
Pela real alforria. A.R
Como mudar o cenário
Se não há educação?
Os mestres que hora ensinam
Não aprenderam a lição
Nunca leram o velho Marx
Para olhar a contramão. D. B
Seguem o velho ABC
Que doutrina não liberta
Paulo Freire em desuso
Como ter a mente aberta?
Quase já não se lê
E ficam de boca aberta. D.B
O cenário vai mudar
Quando houver educação
Quando o povo quiser ler
Pra ter uma nova visão
Dos mestres que já se foram
E deixaram a lição. A.R
Marx e Paulo Freire
E outros que já partiram
Deixaram o seu legado
E muitas mentes abriram
Será que outros virão?
Ou muitos já se iludiram? A.R
Um tempo contrai o outro
Desde que o mundo é
Aprendi a ler os mestres
A expressão do café
A omissão da verdade
A imposição da fé. D.B
Não creio numa escola
Que não fala de axé
Que tanto tempo depois
Não sabe do candomblé
Impõe apenas um credo
E que não canta toré. D.B
É por isso que devemos
Dizer não a imposição
Chega de tanto comando!
De quem só gera opressão
Cobremos nossos direitos
De verdadeiro cidadão. A.R
Quem quiser ficar omisso
Sempre com braços cruzados
Não poderá reclamar
Daquilo que está errado
Pois é hora de acordar
Pra não viver comandado. A.R
O Carnaval é uma festa
De domínio popular
Onde brincamos a luta
E a arte do cantar
Desde Chiquinha Gonzaga
A Mariana Aydar. D.B
Desde que ele surgiu
Muita água já rolou
Das marchinhas ao axé
O povo cantarolou
Com dinheiro ou sem
A alegria extrapolou. D.B
No Carnaval há também
Uma hora pra versejar
Quem gosta de poesia
Não tem dia nem lugar
Quando ela quer nascer
É preciso respeitar. D.B
Era pra ser um versinho
Mas com Ana Reis não dá
Ela tem rima potente
Qual pé de jacarandá
Lançou-me um desafio
Eu larguei o abadá. D.B
Daniela é uma fera
Na arte de versejar
Falamos de Carnaval
Sem nada titubear
Mostrando que no cordel
Já garantiu seu lugar. A.R
Ana Reis e Daniela
Numa prosa bem legal
Discutiram em cordel
Sobre o tema Carnaval
E pra quem leu nossos versos
Um abraço especial. A.R
13/02/2018
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