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Comunicação MPA7 de setembro de 2018
Camponeses e camponesas do MPA no Nordeste receberam entre os dias 30 de agosto e 5 de setembro, uma delegação da Via Campesina de nove países – Suíça, Argentina, Peru, Nicarágua, Palestina, Costa Rica, Coreia, Zimbabué e Brasil -, para o I Intercambio Global Adote uma Semente no Brasil. O evento teve por objetivo internacionalizar a nova ação “Adote uma Semente”, que faz parte da Campanha Global da Via Campesina, “Sementes Crioulas Patrimônio dos Povos a Serviço da Humanidade”.
“Durante a 7ª Conferência da Via Campesina realizada em julho de 2017 – Derio, na província de Bizkaia, no País Basco -, com a presença de camponeses de 70 países, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e a Associação Camponesa da Coreia (KWPA – sigla em coreano) levaram ao evento a proposta da ação “Cada Família adota uma Semente”, como parte da Campanha Internacional da Via Campesina, ‘Sementes, Patrimônio dos Povos a Serviço da Humanidade’, e foi aprovada por todos”, explica Gilberto Schneider, membro do Coletivo Internacional da Via Campesina Agroecologia, Sementes e Biodiversidade. A ação afirma o compromisso com a defesa, o resgate, o melhoramento, a multiplicação e a conservação das sementes, mudas e raças crioulas.
Durante os sete dias de intercâmbio os delegados e delegadas vindos de quatro Continentes diferentes, tiveram a oportunidade de conhecer a diversidade do Campesinato brasileiro, bem como as iniciativas que os camponeses e camponesas do MPA tem desenvolvido com as Sementes Crioulas, a convivência com o Semiárido, a arte, artesanato e a cultura popular, bem como as lutas que têm sido travadas e os parceiros de luta do Movimento.
Delegação no Sergipe
No Sergipe a delegação participou da III Feira Camponesa, Cultural com o Lançamento Estadual da Campanha “Cada Família adota uma Semente” que busca fortalecer a ação internacional da Via Campesina, realizado no Espaço do MPA no município de Poço Redondo, o “Teatro Raízes Nordestinas”, com a presença de camponeses, lideranças políticas e religiosos, parceiros de luta e simpatizantes do Movimento. Em seguida o grupo participou de um diálogo sobre a Lei de Sementes e a Lei de Agroecologia no Estado com a participação de lideranças locais e a Secretária da Agricultura do Estado do Sergipe (Rose Rodrigues), e do representante do mandato popular do Deputado Federal João Daniel (Gismario Ferreira).
Em Canindé do São Francisco no sertão sergipano, o grupo visitou as experiências do MPA na Unidade de Produção Camponesa (UPC), espaço que o Movimento tem se proposto a trabalhar a formação e educação tanto política quanto técnica, como aponta Elielma Barros da direção do MPA no Estado, “é um espaço de experiências, práticas agroecológicas, de resistência e também de formação técnica e política. É uma área de 22 hectares que hoje está sob os cuidados do Movimento já foi destinada a produção de frutas para exportação, que com o manejo intensivo e uso de agrotóxicos deixou a área inviável para a produção”.
Outra experiência visitada foi em Porto da Folha, na unidade camponesa da Dona Cida Silva, uma camponesa que tem em sua área uma infinidade de plantas e animais, cada qual com sua finalidade e uso. Cida foi a precursora na implantação de biodigestores no Sergipe, tanto que recebeu o Prêmio Mandacarú e por consequência, conseguiu que fosse implantada mais 86 biodigestores no Estado.
No mesmo local a delegação visitou o trabalho desenvolvido junto com a Articulação do Semiárido (ASA), a Comunidade apresenta ainda uma série de trabalhos desenvolvidos pela Associação de Mulheres “Resgatando Sua História”. “A Associação nasce de um desejo, uma vontade das mulheres”, explica Cida. Que ainda completa quando o grupo passa pela Casa de Sementes Crioulas, “daqui muitas famílias pegam a semente para multiplicar, cada família adota uma semente para cuidar e depois devolve parte das sementes para a Casa, assim elas permanecem de fato nas mãos dos camponeses e camponesas. Nossa Casa Mãe, lá na UPC, é a nossa grande esperança”, finaliza a camponesa.
Já no último dia de intercâmbio no Sergipe, embora tenha muito caminho e experiências por conhecer, o grupo se despede do Sertão Sergipano com uma visita na Comunidade Bom Jardim, município de Poço Redondo. Entre poesias, músicas e prosas os delgados tiveram a oportunidade de conhecer a Casa de Sementes Crioulas que articula os camponeses e camponesas das demais comunidades a sua volta e hoje conta com mais de 25 variedades de sementes crioulas e mais de 25 famílias estão diretamente envolvidas. A casa faz parte do Plano Estratégico das sementes crioulas, explica Elielma Larros “a proposta é que a cada ano consigamos avançar nos trabalhos dedicados as sementes crioulas e a Campanha Cada Família Adote Uma Semente, a meta é que a cada ano passamos avançar para mais 200 famílias camponesas”, finaliza a jovem camponesa.
Na despedia, a juventude camponesa do Teatro Raízes Nordestinas, e que vivem na Comunidade, realizaram uma série de apresentações da cultura popular como música, poesia, a confecção de bonecas de pano e rendas de Bilro. Com agilidade Adicleia, 18 anos, faz as linhas tornarem-se uma extensa renda. “Aprendia a bordar com minha mãe, que aprendeu com minha avó”, explica a jovem que também dedica-se as aulas de violão.
Delegação na Bahia
O intercâmbio pelas terras baianas iniciou no com a visita ao Acampamento da Água que fica dentro do Assentamento Terra Nossa, em Ponto Novo, Região Norte da Bahia, onde dialogou-se sobre a luta e a resistência pela terra, sobre a luta pelo acesso a água, assim como, o enfrentamento do Assentamento Terra Nossa ao agronegócio que já duram mais de 10 anos. Referente ao Acampamento da água, são mais de 40 dias de baixo da lona preta, interditando a obra que interliga as Barragens de Pedra Altas/Capim Grosso a barragem de Ponto Novo.
Na ocasião a comunidade fez questão de apresentar os projetos que estão sendo desenvolvidos na área, como: resgate e multiplicação de sementes crioulas; a produção de alimentos por meio da Agroecologia; a construção da Agroindústria de Polpas e a Unidade de Beneficiamento de Sementes Crioulas, que deve suprir, de forma prioritária, a demanda local e regional de sementes crioulas. “No Assentamento formam destinados 80 hectares para a produção e multiplicação das sementes crioulas”, explica Edvagno Rios, que é um dos moradores da área e dirigente do MPA.
Ainda no mesmo dia a delegação visitou o Campo de Produção de Sementes Crioulas em Várzea da Pedra, município de Ponto Novo (BA) na Unidade Camponesa do seu Armando e dona Edinalva. Uma lavoura de 2 hectares que já está em seu segundo plantio com milho e feijão, mas como explica seu Armando, a primeira lavoura foi muito produtiva: “plantamos milho, feijão de corda, melancia e pepino, foi uma boa colheita, chegamos a 30 sacas de milho”, explica o camponês que diz estar aprendendo a trabalhar com as lavouras de sementes irrigadas.
O projeto contempla ainda mais 30 famílias, das quais alguns são os guardiões de sementes crioulas, como seu Armando e dona Edinalva. “Iniciamos com o levantamento das variedades que os camponeses e camponesa já tinham, identificamos as mais cultivadas e passamos a fazer a multiplicação, feita em mutirão”, conta o técnico do projeto e militante do MPA, Romilson Sousa. A sementes frutos do resgate e multiplicação das sementes parte é destinada para a casa de sementes da comunidade, e outra parte é destinada as famílias, inclusive para aquelas que não possuem semente crioula alguma, para que possam fazer a sua própria multiplicação, gerando autonomia dos camponeses”, afirma Romilson.
Os resultados desta iniciativa têm sido bastante positivos, conforme relata o Movimento, tanto que há um novo projeto elaboração que deve dar sequência ao trabalho já realizado com relação ao potencial de cada semente e também, de organização e autonomia das famílias e comunidades envolvidas. Por sua vez, Dona Edinalva, relatou como os campos de sementes crioulas tem modificado a comunidade, “o projeto trouxe resultados positivos, incentivou a comunidade e modificou de forma positiva a vida aqui, acredito que o projeto deve melhor ainda mais, estamos apenas começando”, afirma a camponesa com alegria estampada no rosto.
A programação do intercâmbio ainda contemplou uma visita à Comunicação Micaela, no município de Caém – Bahia, local em que foi realizado o primeiro Acampamento da Água. Além de conhecer o lugar e sua cultura, o grupo este nu campo de sementes irrigadas por gotejamento que tem se dedicado a resgatar, cultivar e multiplicas variedades de mandioca e feijão nesta safra. Isso porque para o Campesinato desta região, a mandica significa muito por ser um alimento essencial na mesa, significa resistência e saberes ancestrais.
Sobre a experiência, o jovem camponês Anderson de Sousa Secundo, destacou a importância que os campos de sementes têm para comunidade, assim como a Agroecologia e o papel da juventude: “Estávamos quase sem sementes e o projeto despertou este cuidado, que despertou a comunidade para o cuidado das sementes, mudas e raças crioulas e também, com a Agroecologia e a produção de alimentos saudáveis. Nos permitiu unir a Comunidade, retomar o trabalho em mutirão, dividir as experiências e adquirir novos conhecimento”, explica ele.
Ainda no mesmo dia, a delegação foi recebida pelo Quilombo de Várzea Queimada, município de Caém, no semiárido baiano. Formado em 1885 por três casais fugidos da escravidão na região de Feira de Santana (BA), durante a ditadura militar o Quilombo sofreu fortes golpes e praticamente foi destruído. Em 2014 foi reconhecido como área quilombola, mas a resistência e luta deste povo têm sido uma constante, somado aos processos de transformação popular.
Depois da roda de conversas e trocas de sementes os quinze delegados visitaram o morador mais velho do lugar, seu Joaquim, que mesmo sem enxergar, contou a história do Quilombo e de seus antepassados. Um momento que prendeu a atenção de todos, inclusive das crianças.
Como parte desta troca de experiências, cada delegado contou sobre a realidade seus países e como tem trabalho com as sementes, mudas e raças crioulas. Em seguida, conheceram a Casa de Farinha e o processamento que a mandioca é submetida até se transformar na farina e ir a mesa para consumo. Da mesma forma o quintal de frutas e hortaliças foi bastante apreciado pelo grupo, assim como a experiência da construção das moradias camponesas. No Quilombo o MPA já realizou onze moradias camponesas iguais a que foi visitada, no município de Caém são mais de 30 e no Estado, esse número se multiplica, somando mais de 490 moradias, que aos camponeses e camponesas do Movimento é símbolo de luta, resistência e vida digna no campo.
Já no último dia de intercâmbio na Bahia, a delegação teve a oportunidade de conhecer os guardiões de Sementes Crioulas, dona Adelice Perreira dos Santos (Dona Nice) e seu Antônio Pereira dos Santos, o casal cuida, mantêm e multiplica mais de 80 variedades de sementes crioulas, entre elas milho, feijão, melancia, hortaliças, árvores, ervas aromáticas, medicinais e ornamentais. Moradores da Comunidade Paraíso, município de Jacobina (BA), o casal mostrou cada variedade que trabalham. Dona Nice conta que desde seus 10 e 12 anos começou a cuidar das sementes crioulas, casou-se e segue até hoje, “via sempre minha tia e minha mãe plantando, cuidando e quando davam as sementes para as outras pessoas, sempre faziam as orientações de como plantar e cuidar, e eu fui aprendendo essas coisas”.
Encerando as atividades do I Intercambio Global “Adote uma Semente” no Brasil, a delegação foi recebida por representantes do Governo do Estado da Bahia e movimentos populares parceiros de lutas do MPA, entre eles o Movimento dos Atingidos por Barragens, Levante Popular da Juventude, Movimento dos Trabalhadores Desempregados e a Articulação Nacional de Agroecologia, a capital baiana, Salvador.
A programação do intercâmbio permitiu que o grupo viesse até o Brasil para conhecer as experiências do MPA com sementes crioulas e também para internacionalizar a ação “Cada Família Adote uma Semente”, mas mais que isso foi um momento em que o Campesinato brasileiro teve a oportunidade de conhecer as experiências que outros camponeses e camponesas estão realizando em seus países. Conforme destacou o técnico do projeto e militante do MPA, Rogério Silva: “o intercâmbio nos trouxe mais fortalecimento para seguir produção e multiplicação de sementes crioulas juntos com os camponeses e camponesas do campo e nos fortalece com a campanha cada família a adote uma semente”.
Por Adilvane Spezia – jornalista e militante do MPA
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