AUTOR(A)
Paulo MirandaAUTOR(A)
Paulo Miranda14 de novembro de 2024
Por Valter Israel
Num contexto em que a discussão sobre a jornada de trabalho vem ganhando força, surge uma questão importante: é possível pensar em uma jornada reduzida para quem trabalha no campo? Tanto os operários agrícolas quanto os camponeses enfrentam longas horas de trabalho pesado e expostos ao rigor do clima, frequentemente sem a valorização ou condições adequadas para uma vida digna.
O debate sobre a redução da escala 6×1, que visa oferecer mais tempo de descanso semanal aos trabalhadores, precisa também ser estendido para incluir uma reflexão sobre melhoria na renda, valorização da produção local e reconhecimento dos serviços ambientais prestados pela preservação da biodiversidade levando a uma redução da jornada de trabalho também no campo.
O trabalho rural exige dedicação diária: a ordenha das vacas, a irrigação das plantações e a alimentação dos animais são cuidados que não podem ser interrompidos e que mantêm o ciclo produtivo. No entanto, com uma renda limitada, muitas famílias camponesas não conseguem contratar mão de obra para implementar uma escala de trabalho adequada, o que as leva a uma rotina intensa e ininterrupta, à qual se submetem para garantir a própria sobrevivência.
Os impactos dessa rotina são percebidos nas condições de saúde da população rural, no envelhecimento precoce e nas dificuldades para a sucessão familiar no campo.
Diante desse cenário, alguns princípios podem orientar o debate sobre a implementação de uma jornada de trabalho mais justa para quem vive e trabalha no campo. Entre eles estão:
Qualidade de vida como direito: Reduzir a jornada de trabalho é um passo importante para proporcionar aos trabalhadores uma vida mais equilibrada, com tempo para o lazer, o descanso e a saúde. Esta redução é especialmente necessária em áreas rurais, onde as condições de trabalho são historicamente mais exigentes.
Justiça social e valorização do trabalho rural: A valorização do trabalho rural passa pelo reconhecimento da importância social e econômica do campo e leva a uma remuneração justa e a garantia de condições dignas de trabalho e de vida.
Sustentabilidade e reconhecimento do serviço ambiental: Camponeses desempenham papéis fundamentais na preservação do meio ambiente, seja na conservação da biodiversidade ou na produção de alimentos e de água. Reconhecer esses serviços prestados à humanidade e ao planeta é um princípio fundamental para permitir o avanço na remuneração justa e, consequentemente, para a redução da jornada de trabalho no campo.
Incentivos econômicos e melhoria da renda: É necessário criar condições econômicas que permitam aos trabalhadores uma remuneração digna sem precisar estender suas jornadas além do necessário. Incentivos à produção sustentável e apoio às práticas agroecológicas podem fortalecer a renda dos trabalhadores rurais, tornando a redução da jornada uma possibilidade real.
Desenvolvimento local e valorização das culturas regionais: A identidade rural muitas vezes carrega uma importância cultural significativa para a região. Apoiar o desenvolvimento local e os produtos regionais ajuda a fortalecer as comunidades e a garantir que o trabalho no campo seja economicamente viável.
Solidariedade e justiça intergeracional: Uma jornada sustentável pode tornar o campo um espaço mais atraente para as novas gerações, possibilitando uma renovação saudável e sustentável do trabalho rural. Esse princípio facilita a adaptação às demandas e aspirações dos jovens, promovendo a sucessão familiar no campo.
Para que esses princípios se traduzam em realidade, algumas estratégias são fundamentais:
Valorização da produção camponesa com melhoria da renda: Políticas públicas podem reconhecer o valor da produção camponesa e apoiar a diversificação e a produção sustentável. O incentivo ao consumo de produtos locais é uma forma de fortalecer a economia rural e aumentar o reconhecimento do trabalho desses produtores.
Reconhecimento do serviço ambiental: Criar políticas de pagamento por serviços ambientais para os produtores que preservam áreas naturais e praticam a agroecologia é uma maneira de reconhecer e promover o papel do campo na sustentabilidade do planeta.
Integração campo-cidade: A cidade depende do campo para manter a sustentabilidade do seu abastecimento. Ao apoiar uma jornada justa no campo, a sociedade urbana fortalece o campo e promove um desenvolvimento mais equilibrado e solidário.
A redução da jornada de trabalho no campo é mais do que uma questão de direitos trabalhistas — é um caminho para uma sociedade mais justa, sustentável e conectada com a natureza. Um campo valorizado e respeitado beneficia não apenas os trabalhadores rurais e camponeses, mas também a sociedade como um todo, que depende de sua produção e de seu cuidado com o meio ambiente.
De que forma a nossa sociedade pode refletir e apoiar aqueles que trabalham para alimentar o país e preservar nossa biodiversidade? Pense nisso!
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |