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Comunicação MPA4 de julho de 2017
O tempo histórico está refratário a razão e às mais modestas utopias da humanidade. Acontecimentos isolados, antes considerados abjetos pela maioria da população, agora pululam na vida e nas redes sociais e fazem revelar a emergência de uma subjetividade que se orgulha da ignorância, ostenta a estupidez e cultua o ódio e a violência como resposta aos dilemas da humanidade.
A foto de jovens estudantes de agronomia ostentando camiseta com a frase “- amor + glifosato, por favor” em um evento sobre soja na alimentação humana, promovido pela entidade de ATER oficial de Goiás, não está desvinculada desta subjetividade que tem por substrato a aguda crise de destino que assola as sociedades humanas e o povo brasileiro.
Os jovens, se não podemos isentá-los de sua ignorância convicta, igualmente são objetos da decadência da universidade brasileira em geral, e das ciências agrárias em particular, das pesquisas financiadas por empresas privadas, dos doutos professores orientados pela ansiedade em publicar e seus cartões corporativos e congressos internacionais.
Não é de se estranhar que entre os setores mais jovens e, dentre estes, os jovens universitários é que o bestial candidato a presidência da república – aquele que declara que sua especialidade é matar – ganha mais corações e mentes.
Nas ciências agrárias, com raras exceções, os estudantes são transformados em vendedores sequiosos por realizar o lucro da indústria agroquímica, os mesmos que venderão, assim como agora, com ignorância técnica e científica, os pacotes biotecnológicos.
A relação entre o complexo industrial-militar e agricultura remonta ao século passado, onde países de capitalismo central encontraram, pós a grande guerra, a agricultura como compradora de suas máquinas, venenos e adubos nitrogenados. A base tecnológica da agricultura atual é oriunda da guerra; não por acaso produz tantas mazelas ao meio ambiente e à saúde de quem produz e consome. O Einstein maduro denunciara em vão o nefasto atrelamento.
O glifosato é uma das maiores tragédias da humanidade. As evidencias de que é cancerígeno abundam em nível internacional. A doze anos assisto a peregrinação de agricultores da região norte do estado do Rio Grande Sul, umas das que mais consome agrotóxicos no Brasil, rumo a Passo Fundo, Ijuí e Erechim para fazerem tratamento de câncer. A diferença é que antes iam de carro, pequenas ambulâncias, e agora viajam de vãs e até mesmo ônibus.
Recentemente o Centro Internacional de Pesquisa sobre o Câncer revelou o caráter nocivo da substância. No Brasil há uma importante nota no Instituto Nacional do Câncer (INCA) que trata da relação entre a doença e os agrotóxicos. O Centro Internacional está sofrendo perseguição por parte da empresa Monsanto, como denunciou em matéria o jornal Le Monde Diplomatique. Vejam que até o estado da Califórnia listará o glifosato como causador de câncer. O INCA estimou, para o ano de 2016, mais 596 mil novos casos de câncer.
Enquanto isso, nas cadeiras da universidade, estuda-se agronegócio como cadeias produtivas e seus incríveis processos de racionalização da produção. Se omite que o crescimento vertiginoso do uso de agrotóxicos no Brasil está correlacionado à liberação de cultivos transgênicos. O agronegócio não pode ser compreendido como cadeias produtivas, estas se erguem – como fartamente demonstra o caso brasileiro envolvendo a JBS, e em nível internacional o poder da Bayer, Monsanto e Cargill entre outras e seus respectivos papeis na destruição da soberania alimentar dos povos – através das estruturas de poder que ligam Estado, guerras e corporações.
A aquisição da Monsanto pela Bayer, pelo modesto preço de US$ 66 bilhões, a confirmar-se, consolida o complexo agroquímica-câncer e vai fazê-la abocanhar os lucros advindos da agricultura e de um dos mais promissores mercados do mundo: a indústria farmacêutica de tratamento de câncer que já absorve 1,5% do PIB mundial, cerca de US$ 2 trilhões. Macabro.
A razão iluminista que potencializou a ciência e a tecnologia na agricultura, não fez apenas abundar o crescimento da produtividade física dos cultivos, instrumentalizou a agricultura e alimentação, através da promessa de matar a fome, como arma no plano global de contensão das revoluções socialistas e na subordinação dos países do Sul do mundo. Para tanto selecionou as técnicas mais adequadas a forma mercadoria, produziu mistificação e violência para cobrir tal feito.
À distopia reinante que ostenta a barbárie como valor importa consumir e vender. É o horizonte histórico oferecido a juventude.
Não é o agrotóxico que é sagrado, é o amor ao lucro.
Lutemos para trocar os sinais.
Por Marcelo Leal Teles da Silva, Eng. Agrônomo, militante do MPA
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