AUTOR(A)
Rafaela Alves e Lanna Cecília Lima de OliveiraAUTOR(A)
Rafaela Alves e Lanna Cecília Lima de Oliveira23 de julho de 2020
Rafaela Alves – Direção Nacional do MPA
Lanna Cecília Lima de Oliveira – Doutoranda em Agronomia / Militante do MPA
Nesse período de pandemia as contradições advindas do sistema de produção e de desenvolvimento se agravaram ainda mais com o aprofundamento das crises estruturais do capitalismo numa perspectiva mundial. As desigualdades sociais ficaram ainda mais expostas, e a fome, a face mais cruel dessa desigualdade, chega cada vez mais rápido a casa de diversas famílias, sobretudo daquelas que vivem nas cidades, nos centros urbanos onde prevalecem historicamente os maiores índices de vulnerabilidade social.
É fato que o direito básico ao alimento é negado a um significativo número de cidadãos no Brasil e no mundo, assim é também negado aos camponeses/as condições básicas para se manter no campo e avançar na produção de alimentos. É fato que necessitamos avançarmos na luta para enfrentar o cenário de fome e de insegurança alimentar agravado drasticamente pela pandemia do Coronavírus e pela postura do governo neo-facista e genocida, Bolsonaro.
Tratar do campesinato, da questão das sementes crioulas, da produção de alimentos saudáveis e do abastecimento popular neste cenário é sem duvida uma tarefa desafiadora e extremamente urgente e necessária à vida de todo cidadão. Nesse processo é fundamental refletir a questão e o papel das sementes crioulas na produção de alimentos, considerando o conjunto de fatores que potencializaram os desafios dos camponeses diante da conservação e da multiplicação das sementes, entre eles: questões climáticas, avanço do agronegócio, da produção dos transgênicos e das politicas agrícolas construídas pelo estado estimulando processos contrários à construção da autonomia camponesa.
Diante dessa pauta e da omissão dos governos que não se comprometem com as pautas dos/as camponeses/as, os movimentos sociais do campo têm cumprido ao longo da história um papel fundamental para assegurar a resistência camponesa e processos objetivando a construção da soberania e da segurança alimentar. Processos estes que resultaram na conquista de politicas e programas voltados para agricultura familiar e camponesa, inclusive destruídos pelo Governo Brasileiro nesse momento, como PAA Sementes que vinha contribuindo para que os camponeses tivessem condição de plantar, colher e retomar seu sistema de cuidado com as sementes.
É importante destacar que os movimentos seguem ativos reunindo um conjunto de esforços em torno das reivindicações para que o governo destine recursos para agricultura e aprove uma lei para produção de alimentos. Seguem ainda construindo ações de solidariedade para amenizar as consequências do cenário de fome, entre as iniciativas está, por exemplo, a Campanha de Solidariedade “Mutirão Contra a Fome” construída pelo MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores com o objetivo de arrecadar e distribuir alimentos para famílias que se encontram nas piores situações de vulnerabilidade social.
O processo da Campanha tem possibilitado ainda a solidariedade entre os/as camponeses/as na troca de sementes para assegurar produção de alimentos num cenário de extrema ausência de ações dos governos. Acontece que o abastecimento popular estabelece uma ligação direta com a questão da produção, e, portanto com as sementes crioulas. Desse modo, a solidariedade camponesa nesse momento perpassa essencialmente pelo semeio das Sementes da Liberdade, Sementes da Fartura, Sementes da Paixão, pois são elas a base sustentadora dos sistemas de produção agroecológico.
As sementes Crioulas, passadas de geração em geração camponesa, são responsáveis pelo cultivo de uma grande diversidade de alimentos que impactam diretamente na oferta de uma alimentação de qualidade e na saúde humana. Enquanto o agronegócio produz com muito agrotóxico, insumos químicos e sementes transgênicas objetivando o lucro e exportação, o campesinato produz com os acúmulos da sua resistência, objetivando sua soberania, autonomia, levando em consideração a vida.
Nesses tempos de pandemia, devemos aprofundar nossa reflexão sobre a questão dos alimentos e sobre os desafios que temos em torno da conservação, recuperação, multiplicação das sementes crioula, considerando que são elas a base para consolidação da produção agroecológica que assegura a sociedade o alimento que de fato precisa ter acesso cotidianamente, e só os/as camponeses poderão de fato seguir cumprindo esse importante missão.
Temos tarefas urgentes: a resistência camponesa, o fortalecimento das redes de sementes crioulas, a estruturação das casas de sementes, a consolidação de uma política estadual e nacional de sementes com a distribuição atrelada ao calendário das chuvas, a luta pela reconstrução de um conjunto de politica e programas para fortalecer a produção de alimentos e assegurar o abastecimento popular, a organização camponesa e a retomada do trabalho comunitário para assegurar entre outras questões, a multiplicação das e sementes em roçados coletivos e trocas de sementes.
Não podemos esquecer que o acesso ao alimento saudável é um direito básico, essencial a vida de todo cidadão e que esse processo não acontecerá sem que as sementes germinem vida, a terra gere vida, as mãos camponesas cumpram com sua missão e o conjunto da sociedade no campo e na cidade entrelace suas consciências e sonhos em torno dessa causa contidamente.
Quem alimenta o Brasil Exige Respeito!
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