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Comunicação MPA24 de outubro de 2016
Há tempos em que a barbárie aparenta superar a civilização, em que os dias de caos começam com notícias que parecem editadas para nos desanimar diante de um país à deriva nas mãos de salteadores e golpistas.
A humanidade é uma coisa nova. Não aquela que é o somatório de homo sapiens que povoam a terra, hoje ultrapassando mais de 6 bilhões de indivíduos. Falamos do propósito, do horizonte, do projeto comum.
Milton Santos concordava com isto e dizia que apenas no alvorar do século XXI os seres humanos poderiam dizer que havia a possibilidade de se reunirem como humanidade, até porque as tecnologias de comunicação extraordinariamente avançadas do nosso tempo permitem que nos encontremos a todo momento nos muitos lugares transformados em esquinas planetárias.
Mas, pensar a humanidade não é somente um exercício geográfico de grandes proporções imaginando utopias possíveis em um mundo em agonia. É antes de tudo, olhar e sentir o que há em nossa volta. É ampliar nosso horizonte de pertença e indignar-se profundamente com a barbárie cotidiana e que toma os principais espaços de meios de comunicação.
O que o rompimento da barragem da Samarco tem a ver com ver isto? O crime já comprovado pelas investigações do Ministério Publico, da Polícia Civil de Minas Gerais e da Polícia Federal nos dá a dimensão do que a irresponsabilidade humana pode provocar. De como a humanidade pode ser negada, asfixiada nos lenções freáticos que secam na mineração, jogada fora nos minerodutos insanos que carregam água e comida, enlameada nas barragens que se rompem e provocam mortes e abortos forçados, destroem cidades, poluem rios inteiros, acabam com toda uma biodiversidade marinha.
Além de tudo, como também jogam barro de rejeito dentro do coração e na mente das pessoas, esta negação da humanidade vai crescendo dia após dia, aumentando doenças e causando tristeza. Vai se tornando um bicho vivo, como sempre afirma Serginho Papagaio, atingido em Barra Longa.
E como se não bastasse toda a tragédia provocada pela Samarco, o poder público piora a situação. Comprometido pelo financiamento privado de campanha, alia-se às empresas criminosas e faz uma “acordão” sem a participação das vítimas. E não satisfeito de ver o rio tomado de lama, autoriza que as mineradoras deposite o rejeito aonde ele não chegou.
Em Barra Longa, transforma um parque de exposição onde moram sete famílias, incluindo, crianças e idosos, em um imenso pátio de depósito “temporário”. Já se vão quase 8 meses… E permite que este mesmo rejeito suba o morro e seja usado em obras de pavimentação de ruas, sem dialogar com a comunidade, sem autorização de órgãos competentes, à revelia das medidas mais razoáveis de prudência diante de tantas dúvidas sobre qual a maneira mais adequada de manejar rejeitos dentro de uma área urbana.
Há tempos em que a barbárie aparenta superar a civilização, em que os dias de caos começam com notícias que parecem editadas para nos desanimar diante de um país à deriva nas mãos de salteadores e golpistas. Mas é só uma aparência…
A verdade é que, enquanto o rejeito criminoso desce a montanha e sobe o morro, a esperança pulsa na idosa que comemora a longevidade com sua grande família, amanhece na criança que nasce hoje rompendo com o choro o desacostume com a liberdade e se reproduz naqueles que se organizam e conquistam na justiça a derrota inicial de um acordo autoritário, mas que, sobretudo, reconquistam o sonho de uma humanidade nova e possível.
Por Thiago Alves – Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
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