19 de fevereiro de 2019
Por Mateus Quevedo*
Mãos grossas, mãos finas. Mãos fortes, mãos suaves. Mãos que tocam a terra. Mãos de mulheres. E como na música da cantora colombiana Marta Gómez “manos que tocan dejando el alma“. Mãos de mulheres que se juntam para socializar o papel da mulher camponesa. Foi com esta proposta que a Via Campesina Brasil organizou a primeira Escola Nacional das Mulheres. A atividade aconteceu em Seberi, no Rio Grande do Sul, entre os dias 4 e 6 de fevereiro, contando com a participação de camponesas integrantes dos movimentos sociais que compõem a Via, vindas de diversos estados brasileiros.
“A gente vem acumulando pra chegar nessa compreensão do que nós estamos chamando de feminismo camponês e popular”, introduziu a cearense Maria de Lourdes Vicente, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Convivemos com um número bastante elevado de casos de violência contra a mulher, principalmente na esfera intrafamiliar no campo, fora a violência institucional que vivenciamos de longa data e nos trás aqui o desafio, no conjunto das mulheres camponesas, de buscarmos ações politicas para superação desta violência”, justifica a gaúcha Salete Carollo, também do MST, sobre a necessidade do debate do feminismo camponês e popular no seio dos movimentos sociais campesinos.
“A Escola Nacional de Mulheres da Via Campesina Brasil foi pensada a partir da necessidade que temos em afinar nossa leitura da realidade, e cujo objetivo central é fortalecer a formação política e fazer uma leitura de conjuntura a partir de uma perspectiva feminista, das mulheres do campo, das águas e das florestas” explica a pernambucana Jozelita Tavares, da secretaria da Via Campesina Brasil. “A escola cumpriu com o que havíamos planejado e segue o desafio de dar sequência nos processos formativos também pra nos fortalecer na construção de uma sociedade mais justa para todas”, finaliza a representante da Via.
As contradições da mulher no campo
“Vivemos em um momento em que a violência contra as mulheres esta em um grau assustador, temos muitas mulheres mortas pelo feminicídio, só por serem mulheres, e sentimos que elas enfrentam outras violências, como é o caso dos agrotóxicos, da violência das grandes empresas que acabam fazendo com que as mulheres camponesas estejam em permanente estado de organização e mobilização”, complementa a catarinense Justina Cima, do Movimento das Mulheres Camponesas (MMC), abordando sobre as contradições da participação da mulher no campo. A jovem Luana Rockenbach, também catarinense, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), acredita que “o agronegócio, com os monocultivos e os agrotóxicos envenenando a terra, não é nada mais que a mente machista expressa na terra, e por isso a importância da mulher conquistar esse espaço com a agroecologia, que traz o jovem pro campo, traz alimento saudável, traz a biodiversidade das sementes crioulas, é preciso expressar o feminismo sobre a terra”.
O feminismo camponês e popular
“Quando a gente fala de feminismo camponês, nos estamos falando do direito a terra, do direito a nossa existência, do direito ao respeito à nossa diversidade como mulheres, de que não existe a mulher, existem as mulheres, as campesinas, as indígenas, as quilombolas, por isso a importância, de ser um movimento que aglutina, um movimento em que as mulheres se reconheçam”, define Maria de Lourdes, sobre a corrente do feminismo defendida pelos movimentos da Via. Ela ainda defende que o feminismo camponês e popular ajuda as mulheres a construírem um novo jeito de fazer política, principalmente no que tange a relação entre a luta local e a luta geral, que é a luta de classes e que resulta em um enfrentamento contra o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado.
A mulher e a defesa do território
Para a piauiense Marinei Santos, que é quilombola e integra o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), “o feminismo camponês e popular nada mais é que a defesa dos direitos da mulher no campo, direito ao acesso a terra fértil, a água, a energia e o respeito a nossa dignidade” e ela continua, “o campo é o melhor lugar para se viver e é disputado pelo agronegócio, pela mineração e que querem nos expulsar, muitas vezes usando de instrumentos violentos, expulsar nós que vivemos naquele território, cabe as mulheres se organizar e se proteger para defender nosso território”. No mesmo sentido expressa opinião Atiliana Brunetto , militante do MST no Mato Grosso do Sul, abordando o ponto de vista dos povos originários: “Nós somos mulheres que prezamos pela vida, mas para que tenhamos vida nós precisamos da terra, e esse defender o nosso espaço é das que mulheres vão fazendo, se informando, estudando, pra que de fato a gente possa compreender os territórios, o que é necessário a nossa resistência, a nossa vida, enquanto povos, enquanto comunidades tradicionais na construção desta defesa aos nossos territórios”.
O 8 de março
As mulheres da Via Campesina reiteram a data de 8 de março como central na luta das trabalhadoras, sejam do campo ou da cidade. “Lutar se aprende lutando, o 8 de março tem se tornado neste momento em que a gente ao fazer a luta eleva a nossa consciência de classe, consciência de gênero, consciência ambiental, consciência para as novas relações sociais, então o 8 de março tem a sua importância porque primeiro ele demarca o objetivo ao qual ele foi criado”, aponta Maria de Lourdes sobre a importância da data para as mulheres da classe trabalhadora. A data foi definida como referência de luta pelos direitos das mulheres trabalhadoras durante a 2ª Internacional Comunista em 1910, e teve seu real significado mascarado como um dia de todas as mulheres. “Nós estamos conseguindo na Via Campesina trazer a tona que o 8 de março é um dia de luta e é um dia de luta que nos forma, forma a nossa consciência, que puxa o debate na sociedade sobre temas relevantes, como a denuncia do impacto dos agrotóxicos na saúde, no trabalho e no ambiente”, finaliza.
Jornalista | MPA | BdF-RS*
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |